Meu texto para a coluna “Menu Político”, do caderno “People” do O POVO, edição de 2/2/2014.
“A elite se assusta com a democratização do consumo”
Plínio Bortolotti
Entrevista de Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular ao programa CBN Brasil e as declarações do rolezeiro Jefferson Luís, 20 anos, à revista Carta Capital, ajudam a explicar o que vai pela cabeça e pelo coração dos jovens participantes dos rolezinhos. Contribui ainda para mostrar que a discriminação contra os ascendentes da “nova classe média” é real, em shoppings e em outros locais de consumo, antes “exclusivos” das classes A e B.
Meirelles confirma ser grande a frequência de jovens, de todas as classes, em shoppings. Pesquisa mostra que 17 milhões de brasileiros, entre 16 e 24 anos, vão a shopping centers, 3,3 vezes ao mês, em média. Entre esses, cerca de nove milhões são jovens da chamada “nova classe média”, a classe C.
Renato Meirelles diz que as pesquisas revelam que a discriminação está “muito presente” no dia a dia do jovem da periferia. Nas pesquisas, eles se queixam da perseguição dos seguranças de shoppings, diferentemente do tratamento dado a um jovem “com padrões estéticos e físicos da elite”, segundo definição de Meirelles.
Para o diretor do Data Popular, o preconceito torna-se “estímulo” para o consumo. Os jovens consideram que serão aceitos se estiverem bem vestidos. Muitos deles dizem: “Olha, se eu estou com um tênis bacana, vão me tratar melhor; não vão me olhar de cima abaixo quando eu entrar em uma loja”.
Aqui entra a palavra de Jefferson Luís, um dos organizadores do rolezinho do shopping de Guarulhos (dezembro de 2013), o primeiro que terminou em conflito. Ele diz que o rolé é uma forma de conviver no espaço com pessoas de seu grupo social: “(No shopping) não vou encontrar pessoas iguais a mim. Vou encontrar quem vai lá para comprar, (gente) rica”, que “vão me olhar e pensar que eu sou favelado”.
Voltando a Meirelles, ele afirma que a inclusão da classe C ao consumo, provocou desconfortos. “Vira e mexe, a gente percebe um certo incômodo”, pois, diz ele, “as pessoas da elite se assustam muito com a democratização do consumo”. O exemplo clássico, afirma, está na frase: “Esse aeroporto virou uma rodoviária”. Para ele, a situação acontece porque a renda dos brasileiros cresceu em velocidade “muito maior” do que os “espaços de consumo democrático”.
O que é confirmado por Jefferson Luís: “O shopping não era um lugar confortável (mesmo antes dos rolezinhos), sempre via aquele olhar diferente dos seguranças, porque a gente é pobre. É fácil falar de fora que a gente sempre vai ao shopping, mas eu já sentia preconceito antes.”
O jovem da periferia, afirma Meirelles, por ser vítima desse pensamento, vê no consumo uma forma de combater o preconceito. De longe, como se respondesse ao cientista social, Jefferson diz por que comprou um tênis caro, de marca, com seu salário de ajudante geral: “Era bonito e diziam que durava mais, e eu trabalhei para conquistar aquele tênis…”
PS. A entrevista da CBN pode ser ouvida aqui: http://goo.gl/VMLukC
A matéria da Carta Capital, aqui: http://goo.gl/mNEcjX
NOTAS
Asilo
A petição online pedindo que o Brasil conceda asilo a Edward Snowden já conta com mais de um milhão de assinaturas. Snowden – que está na Rússia em situação indefinidade – é o ex-agente NSA que revelou que a agência de espionagem americana grampeava governos (inclusive aliados) e cidadãos pelo mundo todo. Veja aqui: http://goo.gl/6hwwCd.
Gueto
Tem gente que justifica a arruaça, a destruição de bens públicos e os ataques a ônibus cheios de trabalhadores, patrocinados por “black blocs”, apontando a violência desmedida da polícia contra manifestantes. O fato é que são as duas faces da mesma moeda, apostando em levar as manifestações para um beco sem saída.
Direitos humanos
A esquerda está se rearticulando para retomar a Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados. Depois de terem bobeado, deixando que caísse nas mãos do pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), petistas não querem repetir o erro na próxima legislatura.
O comentário em Gueto O fato é que são as duas faces da mesma moeda, apostando em levar as manifestações para um beco sem saída, merece uma discussão mais ampla, pois todos corremos risco de entrar nesse beco.
Parabéns.
A elite se assusta com a democratização do consumo e também alguns jornalistas ficam assustados com as novas formas de interação com leitores.
Alguns não aceitam ser contrariados.
Valdemar Menezes, por exemplo, coloca suas opiniões e sua versão sobre as maravilhas de Cuba, Dilma e PT e não podemos apresentar nossas versões.
O que não deixa de ser lamentável essa via de mão única.