Reprodução do artigo publico na edição de 16/10/2014 do O POVO.

A moral dos debates
Plínio Bortolotti

“Ele pode ser um filho da p…, mas é o nosso filho da p…” A frase é atribuída a Franklin D. Roosevelt, em relação ao ditador da Nicarágua, Anastácio Somoza, que se aliava aos Estados Unidos no confronto ao comunismo, durante a Guerra Fria (*veja obs). Alguém teria manifestado repugnância ao ditador, obtendo essa resposta do presidente americano. Historiadores, porém, nunca encontraram evidência de que ele tivesse se pronunciado dessa maneira. É daqueles casos em que a lenda é tão boa que se impõe sobre a realidade.

O fato é que todo agrupamento político tem os seus.

Portanto – sem afastar o entendimento de que a corrupção é crime grave, que deve ser combatido – fazer desse assunto o centro da disputa eleitoral levará a lugar nenhum. Existe corrupção no período do PT, como havia nos mandatos do PSDB; o fato, infelizmente, é que ela sempre acompanha os governos. (A questão é dispor de instituições vigorosas o suficiente para punir os malfeitos.)

E foi assim que foi o tema corrupção fez esquentar o debate na Band entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). E, no caso, ambos têm esqueletos, melhor, fantasmas – pois estão vagando por aí – que os assombram. Aécio martelou nas malfeitorias da Petrobras. Dilma sacou uma fieira de escândalos da era PSDB, com uma pitadinha a mais, afirmando que os envolvidos estavam “todos soltos”.

O fato é que os candidatos sabem que temas envolvendo julgamento moral – corrupção, aborto, drogas – impactam o eleitorado, e ficam disputando para ver em qual governo há menos desonestidade ou quem é mais beato.

(Quanto à performance: Dilma continua com dificuldade em se expressar, mistura assuntos, intercala frases soltas; Aécio tem um sorriso cínico, que sugere arrogância, e mantém o hábito autoritário de falar vibrando em riste o dedo indicador.)
PS. Um cavalheiro nunca classificaria uma mulher como “leviana”.

*Obs. Agradeço ao colega Federico Fontenele que, em sua coluna (19/10), corrigiu equívoco cometido com a frase “Ele pode ser um filho da p…, mas é o nosso filho da p…” suposta referência de Franklin D. Roosevelt ao ditador da Nicarágua, Anastasio Somoza. A frase não poderia ter sido dita no período da Guerra Fria, pois esse presidente americano morreu em 1945, antes de começar o confronto terceirizado entre EUA e a então União Soviética. Outra versão é que a frase teria sido dita por um secretário do governo americano, em relação ao ditador Rafael Trujillo, da República Dominicana, aí sim, no período da Guerra Fria.

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