Reprodução do artigo para a coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 26/10/2014, O POVO.

Carlus

Arte: Carlus

A batalha final pelo voto da “nova classe média”
Plínio Bortolotti

Neste “Menu Político”, em 6/7/2014, escrevi que a eleição presidencial seria decidida pela chamada “nova classe média”, pessoas com renda familiar variando entre R$ 1.000 e R$ 4.000 (ou em torno disso): aqueles milhões de brasileiros que ascenderam economicamente e socialmente nos governos do PT. Tomei como base pesquisas do Instituto Data Popular, analisadas pelo seu presidente, Renato Meirelles.

Essa nova classe média são aquelas novas caras que se vê nos aeroportos; que está comprando o primeiro carro financiado e consumindo produtos de beleza, entre outras “extravagâncias”, antes fora de seu alcance. São pais de uma primeira geração de filhos que conseguiram chegar aos bancos universitários, com ajuda do Fies (financiamento) e Prouni (bolsas de estudo).

A questão é que os “batalhadores brasileiros” pouco reconheciam os programas sociais do governos como indutores de seu ascenso, atribuindo-o ao esforço pessoal ou à crença em Deus. Os “filhos da inclusão”, por sua vez, criados em uma atmosfera de relativa prosperidade, mais esclarecidos, formaram a massa crítica que ajudou a detonar as jornadas de junho do ano passado, contra governos e políticos.

Assim, nada garantia que que esses votos iriam automaticamente para a candidata do PT, Dilma Rousseff. Pelo contrário, Aécio liderava a preferência na “classe média intermediária”, até a metade deste mês: tinha 50% deste eleitorado contra 39% de Dilma Rousseff, diferença de 11 pontos, conforme o Datafolha. Na pesquisa mais recente (até o fechamento desta coluna, 21/11/2014) Dilma havia subido para 43% e Aécio descido a 46%. Observe: os quatro pontos perdidos por uma candidatura, transfere-se à outra. Segundo Mauro Paulino, diretor do instituto Datafolha, esse contingente representa em torno de 36% dos mais de 142 milhões de eleitores; ou seja, cerca de 50 milhões de votantes.

Com a votação nas duas pontas da pirâmide consolidada – os de maior renda (ricos e classe média alta) majoritariamente com Aécio; e a classe média e os “excluídos” preponderantemente com Dilma, a batalha final se dará em torno da classe média intermediária. “Quem conseguir crescer nesse segmento vencerá as eleições”, afirma Paulino. Meirelles, na análise citada no primeiro parágrafo, avisava que esse público não votaria com os olhos voltados ao passado (por isso Aécio fala tanto em “não olhar para o retrovisor), mas pela perspectiva de futuro; por isso as duas candidaturas martelaram tanto a palavra “mudança”.

Mauro Paulino lembra que esse segmento tem muito acesso a redes sociais e as usa para se informar e para trocar informações. Para ele, esse é um dos motivos que induzem a movimentos tão rápidos de mudança de opinião (com o que ele busca explicar a diferença entre o que indicam as pesquisas e alguns dos resultados divergentes das urnas, o que o observador leigo classifica como “erro”.)

Assim – apesar da avalanche de pesquisas que os jornais divulgaram por toda a semana – muito provavelmente, o cidadão amanhecerá hoje sem ter noção se a Dilma Rousseff será concedido um novo mandato ou se o eleitor optará por trocar o inquilino do Palácio do Planalto.

NOTAS

Paulino
As expressões “classe média intermediária”, “filhos da inclusão” e “excluídos“, foram mencionadas por Mauro Paulino, diretor da Datafolha, na entrevista à rádio O POVO/CBN (21/10/2014).

Jessé
“Batalhadores brasileiros” é o termo utilizado pelo sociólogo Jessé de Souza, em alternativa a “nova classe média”, classificação difundida pelo governo, da qual ele discorda. Jessé é autor do livro Os batalhadores brasileiros, que procura explicar a ascensão desse segmento.

Meirelles
O diretor do instituto Data Popular, Ricardo Meirelles, falou sobre o assunto em entrevista à revista Negócios da Comunicação, edição de março de 2014 (http://migre.me/mp47v).