Reprodução do artigo publicado na edição de 22/1/2015 do O POVO.

Hélio RôlaDilma passa rasteira nos eleitores
Plínio Bortolotti

Suspeito que a presidente Dilma Rousseff não tenha lido o artigo que escrevi semana passada. Se leu, nem deu bola para o meu conselho de aumentar o imposto de renda dos muito ricos, deixando em paz os remediados e a classe média. Ela fez justamente o contrário. Ao vetar a correção de 6,5% na tabela do IR, fixando o ajuste em 4,5%, na prática aumentou o desconto do IR nos contracheques. Assim, um indigitado trabalhador, com salário de menos R$ 2 mil, já terá direito à mordida do leão, benza-deus.

Desde 1996, no mando petista ou tucano, a tabela do IR vem sendo corrigida abaixo da inflação. No período, o IPCA acumulou 226% e a correção da tabela ficou em 99%.

A desculpa padrão é que no Brasil as pessoas físicas pagam pouco imposto de renda. Vírgula, digo eu: a “pessoa física milionária” paga pouco; porém, a “pessoa física trabalhadora” recebe uma bela facada (nas costas).

Quanto a Barack Obama, desconfio mais fortemente ainda, que ele também não tenha tomado ciência do meu artigo anterior. Porém, o presidente americano captou o “espírito do tempo” e propôs aumentar o imposto dos mais ricos para aliviar a carga da classe média e dos trabalhadores. Se na política externa Obama vem administrando o passivo bélico sem ousadias prometidas em campanha, no front interno seu governo é mais audacioso.

Aqui, o Planalto diz que a correção na tabela, implicaria “renúncia fiscal” de R$ 7 bilhões. O ajuste pretendido por Obama propiciará aumento de arrecadação de 32 bilhões de dólares em uma década (US$ 32 milhões por ano), sem escarafunchar o bolso do trabalhador.

Então o negócio fica assim.

Brasil: Dilma, vitoriosa nas eleições, passa uma rasteira nos eleitores (que acreditaram nas promessas dela), mesmo tendo o Congresso ao seu lado, pois este aprovou a correção do IR. Estados Unidos: Obama, cujo partido perdeu as eleições legislativas de maio, enfrenta um Congresso hostil para beneficiar os menos aquinhoados economicamente.

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