Reprodução do artigo publicado na edição de 7/5/2015, no O POVO
Atriz é vista atravessando a rua
Plínio Bortolotti
Há cerca de dois anos, o mundo dos negócios foi surpreendido com a notícia que Jeff Besos comprara o Washington Post, um ícone do jornalismo, pelo menos desde que dois jovens repórteres investigaram o caso conhecido como Watergate, que levou à renúncia do presidente americano Richard Nixon (1974).
Entanto, o que pretendia Besos, dono da Amazon, um megainvestidor no setor de tecnologia de ponta, comprando uma publicação da “velha mídia”?
Desde que Besos comprou o jornal, a publicação vem crescendo, conforme comentou o editor do Washington Post, Marty Baron, em entrevista à Folha de S. Paulo (3/5/2015). E ele explicou as razões do sucesso editorial: “Há um enorme mercado para assuntos sérios”, acrescentando que ao jornal não interessam as “histórias frívolas”, pois elas acabam por “alienar o leitor para sempre”. De um ano para cá, ao contrário de outras grandes empresas da área, o WP contratou jornalistas – e aumentou sua audiência na internet em 60%.
Pois, no Brasil, o “mundo bizarro” chegou a tal ponto que uma ONG, a Teto, criou uma campanha para chamar a atenção dos meios de comunicação para a necessidade de dar mais destaque às notícias de interesse público.
Na campanha, moradores de uma comunidade pobre de Garulhos (SP) seguram cartazes com frases como: “Famosa é vista falando no celular”; “Ator é visto comendo pastel”; “Atriz é vista atravessando a rua”, entre outras, todas “notícias” realmente publicadas em portais da internet.
Para a Carolina Mattar, diretora da Teto, os problemas sociais e as pessoas pobres “poucas vezes são pautas de notícias” e concorrem “com o grande destaque de notícias sobre o mundo das celebridade”. Em um país como o Brasil, mesmo com os avanços obtidos com o Fome Zero, sem dúvida, esse continua sendo um “assunto sério”.
Como diz o lema da campanha da Teto: “O problema não é o que vira notícia, mas o que deixa de ser”.
Plínio, você é parte da direção do jornal, não? poderia então aproveitar o mote e discutir internamente o assunto. O que não falta no O Povo é frivolidade. Há pelo menos uma dezena de colunas sociais dedicadas a esses temas abordados no ortigo. De um inacreditável “euzinho”, calçado de meias kendall a fotografar “pessoas bonitas e energizadas”, a um “consultor para o mercado do luxo”(?????) que, entre uma dica e outra, empurra um jabá de uma conhecida loja de móveis. E dá-lhe “Bob to you”, starlight, AAAA, “alcaides”, Speech”, “flash”, coluna social em caderno de automóveis, deve ser caso único no mundo, de imóveis, frontstage, backstage etc. Já provoquei vários ombudsman mas eles não parecem dar bola para o assunto. Talvez fosse a hora de olhar o próprio rabo.
Caro Luciano,
No O POVO temos liberdade para debater qualquer assunto – e o fazemos -, inclusive publicamente, como você pôde ver pelo meu artigo. Quando fui ombudsman, escrevi algumas colunas a respeito do tema “colunismo social”, que existe no O POVO; mas v. há de reconhecer a seriedade do jornal e a abrangência dos temas que ele aborda, incluindo os sociais.
Agradeço pela leitura e pelo comentário.
Plínio
Não, Plínio, não reconheço nenhuma seriedade nessas colunas sociais. São excrescências que não existem mais há muito tempo nos maiores jornais. E na quantidade que existe no O Povo então, nem se fala. Ainda mais que algumas são usadas para fazer jabá de estabelecimentos comerciais.
Afinal de contas estamos precisando no Brasil de Militares corajosos…médicos corajosos….Jornalistas corajosos…..Padres corajosos.. Pastores corajosos….Médiuns corajosos…cidadãos corajosos….todos nesse momento crucial do país. Todos têm que dar sua forma de colaboração contra um sistema de governo que escraviza o capital trabalhador em detrimento do capital externo…
DAR COM UMA MÃO E TIRAR COM A OUTRA.
O que choca nestas medidas é a aparente preocupação social em repor um subsídio aos funcionários públicos e pensionistas, quando se sabe de antemão que esse mesmo subsídio irá ser recapturado via aumento da carga fiscal. Trata-se de uma violação inaceitável da confiança ético-política entre o Estado e os cidadãos, que terá como efeito um incremento da fuga e evasão fiscal e mais economia paralela, precisamente o fenómeno que ainda pode e deve ser combatido