Reprodução do artigo publicado na edição de 6/8/2015 do O POVO.
Caça à Presidência
Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br
O Brasil corre o risco de defrontar com medida desatinada do presidente da Câmara dos Deputados: favorecer a apresentação de proposta de impeachment da presidente, como forma de constranger Dilma Rousseff, desviando a atenção das denúncias que o perseguem.
Eduardo Cunha, apelidado de Valdemort (“aquele cujo nome não deve ser pronunciado”) pelos investigadores da Lava Jato, tem um tipo de personalidade que alguns chamam de “ousada”, mas que é apenas temerária. Ele não medirá consequências para proteger os interesses particulares dele e de seus devotos.
O caminho para isso é desaprovar as contas do governo Dilma (2014), devido às “pedaladas fiscais”: o atraso de repasse de verbas para bancos que pagam benefícios sociais, como Bolsa Família, seguro desemprego, entre outros, de modo a cumprir as metas fiscais.
Para chegar até Dilma, o Congresso precisa analisar contas do governo desde 2002, passando por FHC e Lula, que ainda não foram apreciadas (porém aprovadas pelo TCU). Esse primeiro obstáculo já foi removido: a Câmara aprovou urgência para julgar esses processos.
Se as contas de Dilma forem desaprovadas, a próxima manobra seria iniciar o processo de impeachment por “crime de responsabilidade”.
Ocorre que tais “pedaladas” foram prática comum nos governos, desde FHC. Também se valem dela governos estaduais e municipais. Certo é que não se pode admitir a continuidade de uma irregularidade por já ter sido praticada. Mas também é incoerente que uma medida costumeira, de repente, passe a ser criminalizada.
Portanto, ou se rejeitam todas as contas por padecerem do mesmo vício, ou se aprovam todas, ressalvando-se que “pedaladas” serão proibidas, daqui para frente.
Fora disso, ficará claro que não se trata de preservar a moralidade pública, mas de caça à Presidência – a qualquer preço – com a ajuda de nocentes (sem “i”) úteis.
PS. Valdemort é o principal vilão da saga Harry Potter, da britânica J.K. Rowling.
Apenas para entender como funciona a coisa.Jornalista Plínio, quando vc afirma que as pedaladas foram comuns no outros governos,principalmente no de FHC, que os estados e prefeituras também fazem, vc diz fundamentado nos processos,que certamente vc pesquisou, ou apenas reproduz as palavras dos componentes do governo?É dizer, vc viu, ou leu em algum canto,algum processo de contas, situação igual ao que se chama pedaladas?
Em nosso país parece que aquele velho ditado do Coronelismo segue como verbete, ladainha e até mesmo ameaça – “para os amigos tudo, para os inimigos a Lei”.