Reprodução do “Ponto de Vista” a respeito da manifestação contra o governo Dilma Rousseff e o PT, em Fortaleza, no dia 16/8/2015. Publicado na edição do O POVO de 17/8/2015.

A uma jovem manifestante
Plínio Bortolotti

Estou perto de uma rodinha de adolescentes, a mais velha deve ter no máximo 20 anos: vestidas de verde-amarelo, óculos escuros de grife. Uma delas elogia Bolsonaro; outra intervém: “Menos; ele é racista, homofóbico e acha que mulher deve ganhar menos do que os homens”. Diz ter pesquisado a vida do deputado, pois tem o hábito de pesquisar “tudo”. Brava menina.

É lamentável ver que a iniciação política dessas jovens – e de milhares de outros – é dirigida por gente que, tirante o repúdio à corrupção, combate os governos do PT pelas coisas que deram certo: Bolsa Família, política de cotas e programas que propiciaram a ascensão social e econômica de milhões de pessoas.

Isso mostra que o PT falhou miseravelmente em aprofundar as reformas, preferindo agarrar-se ao poder – da pior forma possível – esquecendo-se do programa que fez dele o maior fenômeno da política brasileira.

Faço votos que a menina pesquisadora aprofunde seus estudos – e encontre o caminho da solidariedade, independentemente de partidos ou das organizações que ela segue hoje, pois estas invocam uma “meritocracia” genérica, como se o Brasil fosse a Suécia, com oportunidades iguais para todos.

A propósito: fiz referência a “óculos de grife” não como crítica, mas para mostrar que, o PT tinha também uma tarefa educativa: provar para a classe média que um país mais justo seria benéfico a todos. Ficar longe da corrupção, por exemplo, teria sido bom começo para fortalecer o moral e ter apoio social para fazer as mudanças necessárias.