Reprodução do artigo publicado na edição de 20/8/2015, do O POVO

Hélio RôlaO Brasil dos padrinhos
Plínio Bortolotti

Matéria publicada na edição de ontem deste jornal informa que o senador Eunício Oliveira (PMDB) conseguiu “emplacar” sua sexta nomeação para cargos federais, desta vez um diretor da Anatel (agência de telecomunicações).

Faz pouco tempo, o senador conseguira emprego para o genro, como diretor da Anac (aviação civil), que foi criticada pela associação dos pilotos, questionando a qualificação dele para o cargo. Mas o zelo de Eunício com os seus chegados espalha-se por outras áreas do serviço público, onde também faz indicações: banco estatal, Justiça, pesca.

Por óbvio, Eunício não é o único a usar esse tipo de expediente. A diferença é que ele exibe a sua condição de padrinho, proporcionada pela proximidade e influência que desfruta nos círculos mais elevados do poder, para os quais oferece apoio.

Para se ter uma ideia do tamanho do monstro – e do poder que isso representa para fazer amigos e influenciar pessoas -, a Presidência da República tem mais de 20 mil cargos de “livre nomeação”. Sem contar as estatais, cuja interferência política nas nomeações chega ao nível de gerência (vide Petrobras). O mesmo sistema se repete em estados e municípios.

O apagamento da fronteira entre o público e o privado torna-se a porta aberta para a corrupção. E o “modelo” é desabusadamente usado pelos políticos brasileiros, sem exceção de partidos, quando ascendem ao poder.

Esse texto, portanto, não é uma crítica pessoal ou acusatório ao senador Eunício. Ele é apenas o representante mais visível de um país de padrinhos e apadrinhados, que florescem à sombra de instituições, ainda sem musculatura que as façam impessoais e republicanas.

Sem instituições consolidadas e transparentes, sob controle público, mesmo um “governo de homens honestos” sucumbiria: é impossível manter a decência em meio a um sistema permissivo.

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