Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 20/9/2015 do O POVO.

Lula agradou os de cima e os de baixo; Dilma descontenta a todos
Plínio Bortolotti

Com índices inéditos de impopularidade, a presidente Dilma Rousseff (PT) corre grande risco de perder o apoio dos movimentos sociais organizados. Estes – mesmo criticando a política econômica – continuam defendendo o seu mandato, ainda o vendo como o mais identificado com estratos desfavorecidos da população.

Aliás, foi montada no discurso da defesa dos mais pobres e da preservação dos programas sociais, que a presidente Dilma foi reeleita. Mesmo depois da “revolta dos 20 centavos” – quando ficou claro que a “nova classe média” era uma força política exigente -, os apelos do PT foram atendidos pelos eleitores, que deram um novo mandato à presidente. Conservador do ponto de vista comportamental, mas de “esquerda” pelo ângulo econômico, esse público deve estar descontente ao ver o programa “neoliberal”, rejeitado nas urnas, virar referência do governo.

São esses “batalhadores brasileiros” – zangados e sentindo-se traídos -, que ajudam a engrossar as estatísticas de impopularidade de Dilma Rousseff. Afastado das organizações sindicais, esse público não engrossa os protestos de rua contra Dilma, mas também fica distante dos atos que defendem a permanência da presidente.

Quanto aos setores organizados, antes mesmo do anúncio do “pacote fiscal”, já se preveniam contra o que estava por vir. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) já emitira nota assinalando: “Somos contra o ajuste fiscal e consideramos que o governo Dilma está implementando medidas de ajuste neoliberal, que ferem direitos dos trabalhadores e cortam investimentos sociais. (…) E exigimos que, no mínimo, a presidente implemente o programa que a elegeu”.

Antes da nota do MST, em Belo Horizonte, uma conferência reunindo “representantes de movimentos populares, sindicais, partidos políticos e pastorais, indígenas e quilombolas, negros e negras, LGBT, mulheres e juventude”, criou a Frente Brasil Popular, integrada por entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE) e MST. A frente registrou que faria “ações de massa” (greves, por exemplo) contra medidas que retirassem “direitos dos trabalhadores”.

Depois do anúncio do ajuste fiscal, o tom das críticas elevou-se ao nível do confronto. Em um ato na terça-feira, em São Paulo, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas classificou o pacote de “lamentável” e “recessivo”.

Servidores do INSS já estão em greve, outra leva de funcionários públicos também ameaçam com paralisações; bancários (incluindo Caixa e Banco do Brasil) estão em campanha salarial. A mistura é explosiva, e o pacote do governo pode servir de elemento unificador desses movimentos.

Nessas circunstâncias, acicatada pela direita e pressionada pela esquerda, Dilma não pode fazer como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que forjou o equilíbrio favorecendo as duas pontas da pirâmide social. Lula conseguiu a proeza de ser uma espécie de “herói” para os de cima e para os de baixo. (A classe média ficou meio sem pai nem mãe.)

Dilma, por sua vez, sempre foi alvo do ódio da elite e, agora, está perdendo a confiança das tradicionais bases do PT. É o pior dos mundos.

NOTAS

Notícias do Fla-Flu
Quando a Standard & Poor’s elevou a nota do Brasil (2008), com “grau de investimento”, petistas comemoram e a oposição minimizou o feito. No rebaixamento de agora, ocorreu o inverso.

Enquanto isso…
Os super-ricos escaparam de novo de ver sua renda devidamente tributada. Entra pacote, sai pacote, essa turma escapa ilesa.

Créditos
Nota do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST ); manifesto da Frente Brasil Popular.

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