Reprodução do artigo publicado na edição de 1º/10/2015 do O POVO.

Hélio RôlaO golpe
Plínio Bortolotti

Enquanto no Brasil a direita busca uma brecha para dar um “golpe paraguaio” – pois os opositores não se conformam em esperar as próximas eleições presidenciais -, na Bolívia a esquerda está arranjando um jeito de perpetuar o presidente Evo Morales no poder. O Congresso boliviano, de maioria governista, aprovou emenda à Constituição (que será submetida a referendo em 2016), permitindo a Morales concorrer a mais uma reeleição.

Tanto no Brasil como na Bolívia, pode-se usar o argumento de que a lei está sendo observada. Formalmente sim, mas apelar para gambiarras com o intuito de permanecer por 20 anos no poder, alegando ser a “vontade do povo”, é um pouco demais. (Não foram poucos os ditadores, à esquerda e à direita, que obtiveram apoio popular, pelo menos durante certo lapso de tempo.) Por outra vista, invocar a Carta Magna para sustentar um impeachment, que no fundo mira apenas a cadeira presidencial, é uma tremenda forçação de barra, que deveria enrubescer quem o faz.

Pergunte a qualquer defensor do impeachment e ele vai papagaiar as palavras do novo “muso” do impedimento, o jurista Hélio Bicudo. “Não existe esse negócio de golpe. O impeachment é um processo democrático em curso”.

Agora, questione algum defensor de mais um mandato para Morales, e ele dirá que a Constituição do país está sendo respeitada, pois existe previsão para mudá-la quando uma lei aprovada pelo Congresso é submetida a plebiscito.

Porém, ambos concordarão em uma coisa: cada um acusará o outro de golpista. Impressionante como uma certa esquerda e uma certa direita se igualam, quando se trata de se manter no poder ou tomá-lo na marra.

PS. Marta Suplicy disse que deixava o PT, ingressando no PMDB, para defender “um Brasil livre de corrupção”. Mesmo considerando-se inteligente (ou esperta), a senadora não tem o direito de julgar que os outros são imbecis.

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