Reprodução do artigo publicado no O POVO, edição de 29/10/2015

Hélio Rôla

A velha corrupção
Plínio Bortolotti

Esclarecedora a entrevista exclusiva que o procurador Deltan Dallagnol, coordenador do Ministério Público Federal na operação Lava Jato, deu ao repórter Wagner Mendes, deste jornal (27/10/2015)

No Fla-Flu em que se transformou o País, quando alguém ousa dizer que a corrupção no Brasil não começou com o Partido dos Trabalhadores, a réplica é um olhar reprovador e uma tosca acusação de “petista” ou “bolivariano”.

Porém, é justamente isso que o insuspeito Dallagnol informa: “Na década de 1990 houve 88 escândalos de corrupção apenas na área federal (…) a corrupção é de muito tempo atrás, é um fruto do nosso sistema, não se trata de uma maçã podre na cesta”.

Mais à frente, o procurador complementa: “A corrupção no Brasil não é problema de um partido A ou partido B; de governo A ou governo B. A corrupção é problema de um sistema que a favorece”.

Dallagnol participou de eventos em Fortaleza para divulgar um projeto de lei de iniciativa popular que propõe dez medidas para tornar mais rígidos os controles para prevenir e punir com mais rigor os desvios do dinheiro público. O procurador considera “uma piada” a pena hoje prevista para crimes de corrupção, que “dificilmente” passa de quatros anos.

É obrigatório admitir: a corrupção é velha, contamina praticamente todas as estruturas de poder e tem vida própria. Somente isso explica que, mesmo depois de iniciado o processo da Lava Jato, o dinheiro sujo ter continuado a irrigar impudicamente a conta de alguns rapaces.

O que vai estancar a sangria não é uma ditadura, como querem os doidivanas, pelo contrário: é preciso aperfeiçoar as instituições e ampliar a democracia.

PS. Ricardo Barros (PP-PR), relator do Orçamento, que propõe cortes no Bolsa Família, quer aumentar o Fundo Partidário: mais dinheiro para os partidos. É naquela base de “dois pra mim, nenhum pra tu”. A propósito no artigo anterior, em uma das passagens, grafei o sobrenome do nobre deputado como “Bacelar”. Lembrem-se: o nome dele é Ricardo Barros.

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