Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 29/11/2015 do O POVO.

CarlusSobre crimes e vulgaridades
Plínio Bortolotti

Dia desses, no meu comentário para o programa radiofônico Revista O POVO/CBN (Maísa Vasconcelos) afirmei que ultimamente vinha me espantando mais com a vulgaridade do que com a corrupção, se bem que uma coisa talvez esteja intimamente ligada à outra.

Aqueles empresários de grandes construtoras, “homens de bem”, dedicados a grandes negócios, que gostam de exortar virtudes e prescrever lições, se viram algemados e presos. Mas se podiam, alguns deles, dar a desculpa de que não havia outro jeito de fazer negócios e se viraram obrigados a jogar o jogo, o que dizer da conversa via Watsapp, entre executivos de várias empresas do grupo Andrade Gutierrez, no período da campanha presidencial do ano passado?

A troca de mensagens foi revelada no bojo da Operação Lava Jato. Mesmo em uma conversa entre “bons companheiros”, os termos usados são inaceitáveis como referência a uma mulher (Dilma Rousseff). Vejam.

Durante debate entre Dilma e Aécio (25/10/2014):

“É agora… O tema corrupção… A mulher está nervosa demais… Agora o homem moeu a gorda de perna aberta” (Anuar Caram). “Fora sapa com cara do satanás!!!”, responde Ricardo Sá. O mesmo Caram chama Dilma de “vaca velha”. Vários outros executivos da Andrade Gutierrez participam do grupo, rindo dos xingamentos ou usando expressões tão edificantes quanto de seus colegas. Ninguém disse um “alto lá” ou tentou pôr um fim naquela conversa de sarjeta. Então, o que dizer de tal comportamento? A resposta mínima é vulgaridade.

Que o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) tem contas na Suíça, todo mundo sabe, mas ele continua mentindo descaradamente. Alguns dizem que ele é mitômano, distúrbio de personalidade, que leva o mentiroso a acreditar nas próprias mentiras. Porém, dá-lo como mitômano seria creditar-lhe doença, e Cunha não é doente, é “isperto” – e como todo grande esperto, vai ser engolido pela própria esperteza. Então, como classificar o seu comportamento? A resposta menos dura é vulgaridade.

Pedro Paulo Carvalho, secretário de Governo do Rio, e candidato a prefeito da cidade, também é mentiroso. Quando o assunto tornou-se público, admitiu que agredira a ex-mulher – socos, chutes e empurrões -, quebrando-lhe um dente, segundo consta do boletim de ocorrência feito por ela. Pediu desculpas, atribuiu a um “descontrole” e garantiu que fora um “episódio único” e “isolado”, que nunca agredira a mulher, nem antes nem depois desse acontecimento.

O socorro da solidariedade masculina e político ao pupilo veio do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB): “Eu acho que aconteceu uma coisa de casal, entre quatro paredes, que a gente não conhece as circunstâncias, interessa a eles”.

O que é isso, senão vulgaridade machista de um político que mira a Presidência da República?

Depois, descobriu-se que houvera outro caso de agressão, na frente da filha do casal. E lá foi Pedro Paulo, em entrevista, ao lado da ex-mulher Alexandra Marcondes, explicar-se de novo. Desta vez, evitou pedir desculpas, preferiu lançar um desafio para dispersar a culpa: “Quem não tem briga dentro de casa?”

Muita gente, suspeito, mas nem todos os homens saem socando e chutando a mulher. Pois, o que é isso, senão… crime?

NOTAS

Tolerância zero
Em resposta ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, a diretora da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcukaa, da ONU Mulheres, disse o seguinte: “Se líderes são tolerantes com a violência contra a mulher, isso manda uma mensagem muito ruim para a sociedade. Um dos importantes ingredientes no sucesso da queda da violência contra as mulheres é uma liderança forte, que não envie mensagens dúbias, que tenha tolerância zero”.

A “coisa” é crime
O que o prefeito denomina como “coisa de casal” é classificado como crime pela lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha.

Crédito
WhatsApp de cúpula da Andrade revela torcida por Aécio nas eleições; “Um líder deve ter tolerância zero com violência contra mulheres”.

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