Reprodução do artigo publicado na editoria de Política, edição de 18/3/2016 do O POVO.

Acordão à vista
Plínio Bortolotti

O acerto por cima, entre as elites, é a forma mais comum de se resolver conflitos no Brasil, principalmente quando as ruas ficam nervosas. O desenho começa a ser feito no Congresso, resultado do crescimento da possibilidade de o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff avançar.

PSDB e PMDB começaram o flerte, que pode evoluir para namoro. O noivo deverá ser Michel Temer, que há algum tempo (cartinhas à parte) amplia a distância que mantém em relação ao governo, do qual é vice-presidente.

Temer vem “tomando a liberdade” de escalar-se como o homem da “unidade nacional”. Porém, para isso ele precisa ser preservado da Lava Jato, na qual soma “citação” de pelo menos dois delatores.

Claro, caso progrida um acordo como esse – havendo o afastamento de Dilma e assumindo Temer -, a Lava Jato deverá ser contida em nome da “governabilidade”, pois, continuando os procedimentos, surgirão (ou já se revelaram e não foram divulgadas) malfeitos para muito além do que já se tornou público.

É claro que o próprio PT, tivesse forças necessárias, também já teria tomado providências para abafar o caso. Porém, com um novo governo, o chamamento à concórdia, o apelo por tranquilidade “para que o país volte a produzir” e a redução do ímpeto de delegados da Polícia Federal e de procuradores, pelo fato de o inimigo principal já ter sido abatido, podem sepultar a operação Lava Jato. (Isto é, se as ruas também se aquietarem, pois outros personagens poderão tomá-las.)

Tagged in: