Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 23/6/2016 do O POVO.

Bolsonaro quer fugir à responsabilidade

Que tipo de homem chama uma mulher de “vagabunda”? Que tipo de homem continua com os xingamentos, afirmando que não estupra uma mulher por ser ela “muito feia”, por isso ela não “merece” ser submetida a essa violência, um crime hediondo?

Que tipo de homem, mesmo depois de passado o calor da discussão, anos depois – com tempo para refletir sobre as barbaridades que disse -, repete as mesmas palavras para um jornal e no plenário da Câmara dos Deputados?

Resposta: um “homem” do tipo de Jair Bolsonaro, deputado federal pelo Partido Social Cristão (PSC-RJ).

O primeiro embate entre Bolsonaro e a deputada Maria do Rosário (PT-RS) aconteceu no ano de 2003. Quando ela o chamou de “estuprador” e ele despejou a enxurrada de sandices sobre a deputada. Ok, ela não deveria tê-lo acusado de cometer tal crime, mas a reação de Bolsonaro – ainda que fosse justificável em 2003 (mas não era) – torna-se absolutamente injustificável, sob qualquer ponto de vista, quando repetida 11 anos depois, em dezembro de 2014, quando ele discursou na Câmara dos Deputados.

Bolsonaro, que espalhava não ter medo de processo, quando a deputada iniciou a demanda judicial contra ele, quer agora escudar-se na imunidade parlamentar para fugir de suas responsabilidade, pois tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de incitação ao crime.

Ora, se Bolsonaro é mesmo esse valentão, como gosta de se exibir, ele mesmo deveria ter aberto mão da imunidade para sustentar, de peito aberto, o processo iniciado pela deputada. Mas ele afinou, e agora quer esconder-se atrás do mandato.

A imunidade parlamentar não pode ser entendida como impunidade. Nada mais justo que a imunidade proteja o parlamentar pelos seus votos e pela sua posição política, mas isso não dá o direito de cometer crimes, como a incitação à violência e apologia ao estupro.

PS. Os eventuais leitores estarão de férias desta coluna pelas próximas semanas. Vou desfrutar do privilégio garantido pela CLT, que está sob risco.

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