Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 18/8/2016 do O POVO.

Avança operação para salvar Cunha

Já escrevi neste espaço que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff tinha (tem) o objetivo de salvar políticos do PMDB e PSDB (e outros partidos menos cotados) da Lava Jato, deixando o grosso da conta somente com o PT. Ou como disse Romero Jucá, o breve, com todas as letras: “Tem de mudar o governo para estancar a sangria”.

Fui contestado por leitores argumentando que “nada” pararia a Lava Jato. Apesar de a afirmativa ser discutível, anotei ser o objetivo pará-la, mas não que o propósito seria alcançado. Porém, o conluio para descontinuá-la (para usar uma palavra da moda) vem ganhando cada vez mais força e adeptos; um deles, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Maia quer dar consequência ao desejo do deputado Paulinho da Força (SDD-SP) que, sem corar, defendeu uma “anistia” ao famigerado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por ele ter encaminhado o pedido de impeachment de Dilma.

Pois vejam, o presidente da Câmara marcou a votação da cassação do mandato de Cunha para o dia 12 de setembro, quando todos os políticos estarão em campanha eleitoral, com um agravante: é segunda-feira, dia em que o plenário fica vazio. Como são necessários 257 votos para a cassação, qualquer ausência beneficia Cunha.

E os sinais ficam cada vez mais evidentes. A jornalista Maria Cristina Fernandes (Valor, 12/8/2016) afirma que avança nos bastidores do Congresso a trama para dar anistia a uma parcela (imaginem qual) de políticos que tiveram o nome envolvido na Operação Lava Jato. Essa “parcela” está temendo uma vingança de Eduardo Cunha que fez ameaça direta aos seus pares: “Eu sou vocês amanhã” – e continua aterrorizando antigos aliados.

Além de parlamentares, o interino Michel Temer também se assusta com o velho amigo Cunha e está mexendo os pauzinhos para salvá-lo da cassação.

É de se lembrar que, após a Operação Mãos Limpas, na Itália, o Parlamento aprovou uma série de leis para aliviar a situação de políticos enrolados em malfeitos.

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