Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 15/9/2016

A queda
Plínio Bortolotti

helio-rolaAs quedas de Dilma Rousseff e de Eduardo Cunha mostram a diferença entre partidos de convicção (sem entrar no mérito da ideologia que professam) de aqueles que agem por interesses menores, visando somente ao “lucro” (com aspas e sem aspas) imediato de suas ações.

O Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Socialismo e Liberdade (Psol) – este apesar das críticas aos governos petistas – mantiveram-se contra o impeachment, mesmo quando havia uma avalanche contra a ex-presidente Dilma Rousseff; quando manifestar-se contra o afastamento atraía xingamentos e agressões em lugares públicos.

Caíram defendendo uma ideia: a salvaguarda da democracia contra um golpe parlamentar ou a defesa das políticas dos governos petistas. Não recuaram; não se acovardaram; não capitularam a uma suposta “voz das ruas”, que sempre deve ser ouvida com cuidado, pois nem sempre está certa – e basta consultar a história para verificar essa verdade.

E o que aconteceu com Eduardo Cunha, que exerceu uma espécie de reinado na presidência da Câmara dos Deputados, e chegou a ser chamado de “o homem mais poderoso da República”?

Cunha não construiu o seu poder à força de ideias, de programa ou de qualquer conceito de política, por mais troncha que seja a definição. Ascendeu pela corrupção, pela chantagem, pelo constrangimento, pela compra de apoios. Ele formou um exército de mercenários, pronto a atender ao seu comando mercantil.

Quando a fonte secou, Cunha viu-se só. Do topo – onde ficava a sua cadeira presidencial – e de onde distribuía raios e pautas-bomba -, viu-se isolado na planície do plenário. O PMDB atirou-a à arena dos leões, PSDB e DEM deram-lhe as costas e os partidos de aluguel esgueiraram-se para suas tocas. Seu exército de aluguel desertara.

Mas a história ainda não terminou. O sistema que permite a existência de “cunhas” continua ativo. E, se nada for feito, outros surgirão para ocupar o espaço, pois, em política ou na máfia, não existe vácuo de poder.

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