Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 19/1/2017 do O POVO.

Presença das Forças Armadas não fará diferença

Depois silêncio inicial, quando aconteceu a primeira rebelião de presos em Manaus – atingindo em seguida Boa Vista e Natal, deixando um rastro de sangue com mais de uma centena de mortos – o governo do presidente Michel Temer chegou concluiu que a crise apresenta “contornos nacionais” e pôs as Forças Armadas à disposição dos governadores para ajudar a controlar os presídios.

Mas ainda está um pouco confuso qual será o trabalho dos militares da Marinha, Exército e Aeronáutica nas cadeias, apesar de o decreto presidencial estabelecer que eles farão vistoria nas unidades para encontrar armas celulares, drogas e “outros materiais ilícitos ou proibidos”.

O ministro da Justiça, Raul Jungmann, garantiu que os agentes das FFAA não terão contato direto com os detentos, que serão confinados em outro lugar enquanto os militares fazem a vistoria. “As Forças Armadas não vão lidar com os presos. Esse papel será das polícias e dos agentes penitenciários. Não haverá interação com os presos”.

Primeiro, parece meio difícil desempenhar esse tipo de trabalho sem nenhum contato com os presos. Segundo, se ao entrarem nos presídios, para a busca de “materiais ilícitos e proibidos”, os presos serão levados para longe dos soldados, para que é necessário chamar homens treinados para a guerra para esse tipo de serviço? Quarto, a presença dos militares não fará grande diferença na crise.

O que talvez Temer queira com essa medida “inovadora e pioneira”, como alardeou o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, é apresentar uma proposta de impacto para compensar a inércia inicial e, ainda, concorrer com o “protagonismo” da ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, que age com desenvoltura desde o início da crise.

No mais, suspeito que nem mesmo os militares devem estar muito contentes com o papel de agentes penitenciários que Temer lhes empurrou.

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