Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 16/2/2017.

A “Madonna do mundo das leis”

Sempre alertei para os excessos de promotores, delegados e do juiz Sérgio Moro nas investigações da Lava Jato. Era acusado de “petista” ou “psolista” (referente ao Psol), mesmo com a ressalva que denunciar abusos era diferente de ficar contra a operação. É o preço que se paga por afrontar o senso comum e os heróis da mídia – mas ao jornalista é proibida a covardia intelectual.

Em sua edição de 14/2/2017, o jornal Folha de S. Paulo entrevistou o jornalista peruano Gustavo Gorriti, que investigou os malfeitos da Odebrecht em seu país. O trabalho de Gorriti levou ao processo que poderá culminar com a prisão o ex-presidente Alejandro Toledo.

Pois bem, vejam o que ele diz a respeito da viagem que fez a Curitiba, em 2015, para conhecer a Lava Jato: “Naquela primeira visita, eles me pareciam um grupo de magistrados jovens, fazendo um trabalho altamente técnico, sério e profundo, e que naquele momento ainda trabalhavam sem o furor midiático que depois se montou em torno deles”.

Respondendo a esta pergunta: “E o sr. acha que o juiz Sérgio Moro e o grupo de investigadores da Lava Jato que o sr. conheceu naquela ocasião mudaram muito?” A resposta: “Creio apenas que agora seu trabalho é mais difícil por terem se tornado essas estrelas da mídia. Não é o mesmo o entusiasmo de um juiz principiante que está começando com um caso desses na mão, do que o dessa pessoa depois que se transforma na Madonna do mundo das leis. Acho que eles precisam continuar a fazer o trabalho com seriedade e tomar cuidado com o que essa atenção midiática pode causar em termos de vaidades políticas e tudo o mais”.

De forma elegante, porém não sem ironia – “Madonna do mundo das leis” -, Gorriti fez análise precisa da forma de atuação de Moro e sua turma. Apreciação que os “colunistas de grife” brasileiros nunca tiveram coragem de fazer, mas talvez o façam agora, para “estancar a sangria”, pois o tsunami ameaça arrastar o PMDB e o PSDB.

A propósito, Gorriti acaba de receber a comenda Maria Moors Cabot, o mais antigo prêmio internacional de jornalismo, concedido pela Universidade de Columbia, reconhecendo jornalistas que contribuem para o “entendimento interamericano”.

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