Reprodução da coluna “Política”, edição de 28/3/2017 do O POVO. (Em substituição ao titular Érico Firmo.)

É preciso salvar a política dos políticos

A ressalva de que é incorreto demonizar a política é importante e deve ser repetida, principalmente em tempos sombrios, nos quais se excitam os salvadores da pátria. Mas é preciso reconhecer que esse argumento está se tornando cada vez mais difícil, quando se observa que os políticos põem na frente do interesse público pelos menos três coisas: eles, eles e eles mesmos.

SALVA-VIDAS
O voto em lista surge agora como um bote salva-vidas. Outra tábua de salvação no mar revolto da Lava Jato, no qual se debatem suas excelências, é o chamado “foro especial por prerrogativa de função”, mais conhecido nas quebradas por “foro privilegiado”. Qual seja, o direito de parlamentares e chefes de Executivos de serem julgados em tribunais superiores.

Vejamos.

Com o voto em “lista fechada”, o eleitor não mais votaria no candidato de sua preferência. Teria de votar no partido, que lhe apresentaria uma lista nominal. Dessa lista seriam sacados os nomes de acordo com a quantidade de votos que a legenda conquistasse.

BUROCRACIA
É claro que as burocracias partidárias seriam preponderantes nessas listas. Já existe até um movimento para que os atuais deputados tenham o direito de estar nos primeiros lugares. Certamente que o voto em lista é uma proposta que merece ser estudada, mas, agora, surge apenas como um casuísmo para livrar pescoços da guilhotina.

DESCRÉDITO
O descrédito da política é hoje comum a vários países do mundo, surgindo o temor que isso leve a uma profunda frustração com democracia, o que é sempre perigoso. Mas os políticos parecem não se dar conta disso.

DEMOCRACIA
Felipe González, primeiro-ministro espanhol (1982 e 1996), dirigiu, no Brasil, durante um ano, cátedra José Bonifácio, na Universidade de São Paulo. Ao fim do curso, agradecendo pela homenagem que lhe prestaram, ele terminou assim o seu discurso: “A universidade deve ser entendida como fonte de propostas para salvar a democracia, porque está claro que a política não
vai fazer isso”.

Quem há de discordar dele?

TODO MUNDO SABIA
Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marcelo Odebrech (Odebrecht) disse que o caixa 2 foi prática comum de “todos os candidatos eleitos” e adicionou: “Duvido que tenha um político no Brasil que tenha se eleito sem caixa 2”.

DOIS TIPOS
Existem dois tipos de políticos: os que reconhecem a existência do caixa 2 e aqueles que mentem, afirmando desconhecer o desvio. Qualquer pessoa medianamente informada sabe como o negócio funciona. E políticos não estão entre os espécimes mais ingênuos da fauna planetária.

CARNE FRACA
Depois da operação Carne Fraca, o principal argumento da indústria de carnes e derivados é que cumprem todas as normas sanitárias. Isso é obrigação. Se a indústria quiser mais respeito e confiança do consumidor, precisa ampliar seus esforços.

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