Reprodução do artigo publicado na edição de 27/4/2017 do O POVO, editoria de Opinião.

As distantes pedaladas

Poderia comentar os projetos de abuso de autoridade e do fim do foro privilegiado para autoridades, aprovados ontem em Comissões da Câmara. Porém, prefiro lembrar um fato que parece antigo, o impeachment contra presidente Dilma Rousseff, cuja abertura do processo na Câmara completou um ano neste mês. Para quem ainda duvida ter sido um golpe, segue pequeno roteiro.

1) Mal desligadas as urnas eletrônicas, O PSDB questiona o resultado, pedindo que o senador Aécio Neves fosse nomeado presidente no lugar da eleita.

2) Depois, O Estado de S. Paulo publica matéria (16/4/2016) revelando que, desde 2015, um grupo de deputados se reunia para discutir o impeachment, sob a orientação jurídica do ex-ministro do STF, Nelson Jobim.

3) Em seguida (maio 2016) divulga-se o diálogo entre Sérgio Machado (ex-Transpetro) e o senador Romero Jucá (PMDB), no qual este propôs a “solução Michel (Temer)” para “estancar a sangria” da Lava Jato.

4) Agora, o próprio beneficiário do golpe confessa a sedição. Em entrevista à Band TV (15/4/2017), Temer disse que, na época, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, lhe dissera que ia arquivar os pedidos de impeachment contra Dilma, pois os três deputados do PT votariam para sustar a abertura de um processo que corria contra ele na Comissão de Ética (que lhe custou o mandato). No dia seguinte, nas palavras de Temer, Cunha telefona dizendo que iria dar sequência ao impeachment, pois os deputados do PT teriam desistido de preservá-lo do processo (ou seja, o impeachment foi uma retaliação pessoal). Temer deu esse depoimento tentando provar não ter conspirado contra a presidente.

5) Na sequência, da cadeia em Curitiba, Cunha manda carta desmentindo o presidente. Diz que “o verdadeiro diálogo” ocorrido com Temer, “48 horas antes da aceitação da abertura do processo”, foi submeter ao então vice-presidente o parecer do impeachment “considerado por ele correto do ponto de vista jurídico”.

Então, como fica mesmo aquele negócio do qual ninguém mais se lembra? Ah, sim “pedaladas fiscais”.

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