Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 25/5/2017 do O POVO.

Alguém avise a Temer que o governo acabou

O governo Michel Temer acabou. Falta alguém com coragem para bater à porta do bunker para dar-lhe a notícia. Ele até pode continuar no cargo, recusando-se à renúncia e mantendo o título de “presidente”, mas passará a ser visto, inclusive pelos aliados, como estorvo a ser removido.

Pensando bem, o aviso talvez nem seja necessário, pois Temer passou recibo de que está acuado ao convocar as Forças Armadas na tentativa de conter protestos populares contra o seu governo. Por óbvio, não se defende aqui depredações, violência e ataque ao patrimônio público, praticados pela minoria entre os manifestantes, cerca de 30 mil.

Porém, chamar as Forças Armadas para controlar movimentos sociais é medida equivocada e perigosa: resultado da tentação autoritária ou do desespero – ou das duas coisas juntas.

Ou ainda da covardia, pois Temer não teve coragem nem de assumir a responsabilidade pelo seu feito. Mandou seu ministro da Defesa, Raul Jungmann, dizer que o decreto de “garantia da lei e da ordem” (válido até 31/5) fora assinado “por solicitação do sr. presidente da Câmara”.

O problema é que Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais aliados do presidente, desmentiu Temer, pedindo que o ministro “restabeleça a verdade” sobre a convocação das Forças Armadas. “Eu afirmo e reafirmo que isso não é verdade”, declarou Maia. O que o deputado pediu ao presidente foi a intervenção da Força Nacional (composta por policiais de vários estados) e não das Forças Armadas.

Muito provavelmente o contratempo entre os dois não tenha consequências mais sérias. Mas o presidente da Câmara deve ter-se sentido mais incomodado pelo fato de ser filho de um exilado político no período da ditadura, César Maia (ex-prefeito do Rio). Deve despertar-lhe traumas ver as Forças Armadas sendo usadas para conter manifestações populares.

Com déficit de popularidade, balançando no cargo, Temer apela para Forças Armadas para mostrar sua autoridade. É péssima ideia.

Tagged in: