Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 31/8/2017 do O POVO.///

Lava Jato e Mãos Limpas ///

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (29/8/2017), o professor Giovanni Orsina, da universidade LUISS-Guido Carli (Roma), fala sobre as consequências da operação Mãos Limpas na Itália (1992-1996). Mesmo evitando comparar com a Lava Jato brasileira, a análise do professor revela pontos de proximidade entre uma e outra. Orsina é um dos principais historiadores desse fenômeno na Itália.

Para ele, “houve um processo muito intenso de busca por bodes expiatórios” pela mesma sociedade que “tolerou aquelas práticas (corrupção) por muitos anos”. Segundo o historiador, houve entendimento equivocado de que, livrando-se dos “bodes expiatórios” tudo ficaria bem. “Apoiaram (a sociedade italiana) a Mãos Limpas, só que nada foi plantado, exceto a ideia de que a política é ruim, e que os magistrados eram mágicos”.

O professor afirma que os juízes da operação Mãos Limpas faziam o indiciamento “moral” da “classe política”, quando deveriam ater-se ao julgamento judicial. Como sequência surgiria Silvio Berlusconi, um candidato “que a sociedade queria: apolítico, empreendedor e rico” por isso (supostamente), “não precisaria roubar”. O problema, escrevo eu, é que Berlusconi, além de atacar a Mãos Limpas, fez um dos governos mais corruptos e destrutivos da história italiana.

Existem indicativos de que alguma coisa parecida acontece no Brasil: juízes e procuradores justiceiros, com forte discurso moral e a criminalização da política. Como corolário, surge um candidato “apolítico”, apresentado-se simplesmente como “gestor” – e outro de corte fascista.

Mas a Lava Jato fez mal ou bem ao país?

Ao lançar seu novo livro – “Política no limite do pensar” -, o filósofo José Arthur Giannotti também falou sobre o assunto, ao jornal O Estado de S. Paulo (29/8/2017), afirmando que, “apesar de suas loucuras”, o saldo da Lava Jato é positivo. E que, como “toda a classe política” está contra a operação, ele torce pela vitória do “pessoal da Lava Jato”.

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