Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 24/9/2917 do O POVO.///

A desigualdade entre os brasileiros é “chocante”///

Estudo recente divulgado pela equipe de Thomas Piketty mostra que nos últimos 15 anos o crescimento da renda da população mais pobre foi insuficiente para reduzir a desigualdade no Brasil, que se mantém nos mesmos patamares. Piketty é o autor do livro “O capital no século 21”, mostrando a grande desigualdade de renda no mundo, com os 10% mais ricos apropriando-se da maior parte do crescimento econômico deste século.

Isso foi suficiente para os colunistas “de grife” se esbaldarem dizendo que caía mais um “mito” da era petista, qual seja, a redução da disparidade de renda entre os brasileiros. Esqueceram-se do Bolsa Família e da ascensão de milhões de brasileiros para a chamada “nova classe média”, políticas que tiraram o Brasil do Mapa da Fome da ONU. Infelizmente, estudos recentes mostram que o Brasil pode voltar a entrar nessa lista vergonhosa.

O próprio Piketty, quando esteve no Brasil em 2014, já dizia que a desigualdade no País estava “provavelmente subestimada”. Com esse novo estudo, mais abrangente, incluindo a análise de dados do Imposto de Renda, o economista francês provou a impressão anteriormente manifestada.

Eu mesmo, que não sou economista, porém leitor atento da realidade, já escrevi, mais de uma vez, que o ex-presidente Lula era o pai dos pobres e a mãe dos ricos. Isto é, o petismo resgatou milhões de brasileiros de uma situação miserável – e isso merece aplausos. Com a outra mão, facilitava a vida dos mais banqueiros e super-ricos para que continuassem a faturar sem nenhuma contrapartida social – e isso merece crítica. “Empresários e bancos nunca ganharam tanto dinheiro como no meu governo”, gabou-se o ex-presidente, mais de uma vez.

Mas como a desigualdade se manteve no Brasil se houve crescimento de renda dos mais pobres? Parece paradoxo, mas não é. Os mais pobres tiveram aumento de renda, mas a renda dos ricos também cresceu, mantendo-se a diferença nos níveis da pirâmide social.

É preciso observar que o resgate das populações em extrema pobreza, independentemente da redução da desigualdade é um passo importante. No limite, pode-se ter uma sociedade marcada pela desigualdade, porém na qual todos tenham o suficiente para viver de forma digna.

De acordo com o estudo de Piketty, a fatia da renda dos 10% mais ricos no Brasil passou de 54,3% para 55,3% de 2001 a 2015. A renda dos 50% mais pobres subiu o mesmo um ponto percentual, passando de 11,3% para 12,3%. No período, a renda nacional total cresceu 18,3%, com 60,7% desses ganhos apropriados pelos 10% mais ricos. As camadas menos favorecidas ficaram com 17,6%.

Os pesquisadores mostram que a renda média dos 90% mais pobres no Brasil é comparável à dos 20% mais pobres na França, “o que expressa a extensão da distorção e a falta de uma vasta classe média”. Em contrapartida, as pessoas na faixa do 1% mais rico no Brasil têm renda de US$ 541 mil, ganhando mais do que o 1% da França, cuja renda está entre US$ 450 mil a US$ 500 mil.

O que poderia ter reduzido a desigualdade no Brasil seriam políticas que o petismo não teve coragem de implementar. Por exemplo, mudar a lei para fazer os milionários pagarem imposto de renda de acordo com suas posses e promover a reforma tributária. Esta nem precisaria aumentar impostos de produtos e serviços, bastaria tornar a cobrança mais justa, isto é, progressiva – e não regressiva como é hoje, apenando os mais pobres.|

A conclusão do estudo preparado pelo World Wealth and Income Database, coordenado por Piketty, foi que a desigualdade no Brasil é “chocante”. Deveria envergonhar a todos os brasileiros.

NOTAS

INTERMEDIÁRIA
Na faixa intermediária, representando 40% da população brasileira, a participação na renda nacional caiu de 34,4% para 32,4% de 2001 a 2015. Essa queda foi transferida para as duas outras faixas.

ESTUDO
Segundo o estudo, a camada intermediária não se beneficiou diretamente das políticas sociais do período nem obteve ganhos de capital, restritos aos mais ricos.

CRÉDITO
EBC: Desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015, revela estudo.

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