Se a escalada não for contida, os tiros contra o acampamento de apoio a Lula em Curitiba – que deixaram dois feridos, um deles em estado grave – podem ser apenas o estágio intermediário da onda de violência que tende a se disseminar.

A etapa embrionária começou com os ataques verbais, seguindo-se as agressões em restaurantes e outros lugares públicos – e chegam agora à sua fase armada. É a segunda vez que militantes do PT são atacados a tiros no espaço de um mês.

Esse tipo de crime é incentivado – pelo menos indiretamente – pelo destempero de quem teria a obrigação de demandar pela prudência, pela tolerância, pela liturgia do cargo e – acima de tudo -, pela observância das leis. Mas alguns juízes, promotores e delegados da Polícia Federal, parecem imbuídos de uma sanha que os impede de impede de conter o ódio difuso contra alguns segmentos da sociedade que eles tomam como inimigos.

É preciso começar lembrando que na campanha de 2014, o delegado Igor Romário de Paula, um dos chefões da Lava Jato, pedia votos para Aécio Neves (um cidadão acima de qualquer suspeita) na internet. Também fazia parte de um grupo no Facebook, identificado com uma caricatura da então presidente Dilma Rousseff, apresentada com dois dentões fora da boca. A comunidade fazia comentários jocosos contra o Partido do Trabalhadores e ostentava uma faixa vermelha com o dístico “Fora PT”.

Avançando mais, qualquer crítica à operação Lava Jato passou a ser vista como defesa da corrupção. A coisa chegou a tal ponto que irritou até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que analisam a possibilidade de processar criminalmente (injúria e difamação) o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, pelas críticas que que fez à Corte Suprema, quando esta retirou trechos da delação da Odebrecht que se referiam a Lula (processo do sítio de Atibaia).

“O que acontece hoje é o esperneio da velha ordem. A pergunta que devemos fazer é qual o motivo pelo qual precisam sacrificar o bom nome do tribunal”, escreveu o procurador curitibano Carlos Fernando, umas das “estrelas” da Lava Jato, em uma oração cheia de insinuações.

O procurador paulista Ricardo Montemor foi mais longe em uma rede social: “Confesso estar muito, mas muito cansado mesmo de toda esta canalhice que é feita no STF pelos canalhas (Ricardo) Lewandowski, (Dias) Toffoli, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello. Não há um só dia que estes fdp não tentam sacanear e acabar com a Lava Jato ou botar na rua o bandido corrupto Lula. A solução ideal não posso dizer. Perderia o emprego se dissesse o que eles realmente merecem. Até quando vamos ter que aguentar esta bandidagem togada?” Qual seria a solução que o indigitado procurador não pode dizer? Atirar nos ministros?

Saltando para o Judiciário, dois representantes da fina-flor da magistratura. Pela ordem, começando pela desembargadora Marília Castro Neves, sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). A magistrada fez um post no Facebook cheio de ódio e mentiras: “A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’; ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores (…) Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro”.

O juiz Afonso Henrique Botelho (Petrópolis-RJ) teve a pachorra de publicar um “tutorial”, no Facebook ensinando como agredir a senadora Gleisi Hoffmann (PT) e sair com a “ficha penal limpíssima”: “Se algum brasileiro indignado lhe der uma cusparada no meio da fuça, um chute no abundante traseiro ou uma bela bolacha na chocolateira…. responderá no máximo por injúria ou lesão corporal leve”. O juiz esqueceu de se autoavisar que praticou incitação ao crime: artigo 286 do Código Penal.

Se alguém tiver paciência de escarafunchar as redes sociais, talvez encontre mais disparates. E fico cá me perguntando se os concursos públicos para juízes e procuradores não deveriam incluir um rigoroso exame psicológico. Sim, pois alguma coisa teratológica está sendo gestada, como um Alien, no ventre dessas instituições, responsáveis por aplicar a Justiça no país.

Ah, sim, já ia me esquecendo. O próprio juiz Sérgio Moro já avançou o sinal, divulgando gravações que deveriam ser sigilosas, incluindo conversas pessoais de parentes do ex-presidente Lula.

Há muito venho escrevendo que os desatinos e os delírios messiânicos de alguns integrantes da Lava Jato são seus principais inimigos.

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