Artigo publicado na edição de 2/8/2018 do O POVO, editoria de Opinião.

Recentemente, com uma amiga, assisti a uma palestra na qual o expositor desfiava lugares-comuns como se estivesse a anunciar grandes descobertas no campo que se dizia especialista. Depois de dez minutos de “explicações” óbvias, deixamos a sala, nos perguntando porque algumas pessoas, completamente despreparadas, demonstram tanta autoconfiança, por vezes prepotência, mesmo sendo vazias de conteúdo.

Ao mesmo tempo, recordamos de pessoas muito boas em sua área que manifestam insegurança, e geralmente são obsessivas, admitindo grande esforço para melhorar o que fazem; estudam e preparam-se antes de qualquer apresentação ou exercício que tenham a desempenhar. Por exemplo: nenhum bom escritor diz que, ao sentar-se ao computador, passa a escrever como se fosse um médium, com as palavras sopradas por um espírito ou pela Musa. Pelo contrário, alguns revelam que reescrevem um único parágrafo dezenas, quando não centenas de vezes e, mesmo assim, não se veem contentes – achando que sempre há algo a melhorar.

Agora, escritores de fim de semana são capazes de produzir um livro por mês e palestrantes profissionais (nunca entendi bem esse tipo de atividade) dispõem do dom de ensinar, em uma hora, como um empresário deve dirigir a sua empresa, sem nunca na vida ter assentado um prego em uma barra de sabão.

Coincidentemente, um dia após essa conversa, minha amiga me manda um artigo que acabara de ler sobre o efeito Dunning-Kruger. Trata-se de um estudo realizado pelo professor de psicologia social da Universidade de Cornell (EUA), David Dunning e seu aluno Justin Kruger, no qual eles comprovam o seguinte: as pessoas com menos habilidades e conhecimento tendem a superestimar as capacidades que realmente possuem e, ao contrário, os mais capazes e competentes se subestimam.

Penso, portanto, ter descoberto o porquê de o mundo da política ser um campo propício à atuação de ignorantes, incompetentes e estúpidos de modo geral. Não tenho dúvida que isso se deve ao efeito Dunning-Kruger. Eles se acham ótimos

, sendo, quando muito, lamentáveis.

PS. Texto sobre o efeito Dunning-Kruger em PsiconlineNews.