Ainda escaldado pelas notícias de estupros cometidos por um motorista da 99Pop, publicada neste jornal, leio também por aqui, que a Waze, um aplicativo de mobilidade, vai passar a operar no sistema de transporte de passageiros, a exemplo do que fazem a 99 e a Uber. Só que diferente, segundo a publicidade da empresa: não seria um sistema de corridas, mas de “caronas”, aproveitando o trajeto já executado pelo motorista no seu dia a dia, que custaria entre R$ 4 e R$ 25 para o “caroneiro”.

Como sempre, além das maravilhas da dita economia “compartilhada”, a propaganda fala em reduzir tráfego de carros, promete maravilhas de segurança e outros blablabás, como a aguinha e os bombonzinhos que motoristas da Uber distribuíam quando o serviço foi implantado.

Quem tem um pouco de memória vai se lembrar que a Uber também foi apresentada como um serviço de carona quando começou a operar no Brasil, em 2014. Na época, a empresa divulgou que a receita média de um motorista do “parceiro” do aplicativo em Nova York era de 90 mil dólares por ano, ou seja R$ 360 mil, ou R$ 30 mil por mês.

Hoje se sabe que os aplicativos arrancam o couro do motorista, ficando com 25% do valor da corrida, sem precisar preocupar-se com empregados, com combustível ou com a manutenção do veículo. Além disso, com o crescimento desregrado, passaram a descurar-se das regras de segurança, prejudicando os clientes.

Quanto à melhoria do trânsito que os aplicativos de transporte trariam, também se mostrou falacioso. Estudo realizado pela Schaller Consulting e publicado pelo jornal The Washington Post mostrou que os aplicativos fizeram aumentar o número de carros nas ruas, agravando os problemas de trânsito.

O que aconteceu é que os aplicativos tiraram passageiros do transporte público. Pessoas que antes usariam ônibus, bicicleta ou fariam o percurso a pé, passaram a utilizar o serviço de transporte “compartilhado”, mas cujos carros costuma transitar com apenas um passageiro. Ou seja, quando o assunto é “melhorar o trânsito” os serviços de aplicativo fazem justamente o oposto do que prometem.

Portanto, se esses caras querem ganhar dinheiro, ok, não é proibido. Mas deveriam submeter-se à legislação e parar de se esconder atrás do discurso sobre “um mundo melhor”, “mais conectado” e cousa e lousa, e da tal economia compartilhada, que, para eles, é na base do “dois pra eu um pra tu”.

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