Artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, 20/9/2018

O dilema dos partidos democráticos

As pesquisas desta semana do Datafolha e do Ibope indicam que Jair Bolsonaro (PSL) estará no segundo turno e seu provável adversário será Fernando Haddad (PT). Isso a continuarem as atuais condições de temperatura e pressão, pois, em se tratando de Brasil, o assombro está sempre ali, espreitando na esquina. Concluí este artigo antes do resultado da nova pesquisa Datafolha, que estava prevista para ser divulgada à meia-noite desta quinta-feira, mas o resultado deve confirmar as tendências já apontadas.

É nesse clima que Geraldo Alckmin vê seus votos se esvaírem: o “mercado” (cuja única ideologia é o lucro) está costeando o alambrado e acercando-se de Bolsonaro; os mais escrupulosos tateiam em busca do melhor nome para enfrentar o líder das pesquisas. O mesmo fenômeno, fuga de votos, atinge as candidaturas de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT).

Talvez, a exemplo de Tasso Jereissati, outros tucanos estejam lamentando agora comportamento que tiveram com o Partido dos Trabalhadores. Os tucanos espicaçaram o PT, votaram contra propostas que concordavam por birra, turbinaram as denúncias contra o partido e aliaram-se a Temer e Cunha com suas pautas-bomba. O serviço estaria completo com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Mas alguma coisa deu errado pelo caminho e a conta chegou agora para o PSDB.

Deveria ser objeto de estudo acadêmico o porquê de duas siglas de talhe social-democrata – o PT e o PSDB -, viverem às turras, quando ambos poderiam conviver no mesmo partido, ainda que em tendências diferentes. Cheguei a escrever um artigo (8/3/2015) propondo que ambos se fundissem em uma única sigla, o PTSDB (Partido dos Trabalhadores da Social Democracia Brasileira), tendo como símbolo “um tucano com uma estrela no bico ou uma estrela com um tucano no centro”. O texto tinha um tom jocoso, porém baseado em fatos reais.

Agora, é saber se o PSDB, caso não vá ao segundo turno, apoiará o PT ou cairá nos braços do candidato a ditador (para lamentar-se mais tarde). O mesmo dilema vale para o PT ou para qualquer outro partido que fique fora do segundo turno.

PS. Artigo citado: Proposta para a criação de um novo partido.

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