A se levar em conta a lógica do “mercado” (a métrica que os liberais gostam) o ministro da Economia, Paulo Guedes saiu, derrotado da refrega de ontem na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, referente ao debate da reforma da Previdência apresentada pelo governo: a Bolsa terminou o dia em queda de 0,94% e dólar subiu 0,56%.

Ressalve-se que Guedes foi para a arena praticamente sozinho, sem retaguarda para fazer frente ao fogo cerrado da oposição. Se um marciano houvesse descido ontem na Terra para assistir ao embate, teria certeza de que a oposição era maioria absoluta na Comissão.

A favor do ministro ouviram-se apenas murmúrios, um aqui e outro ali, e um discurso lido pelo líder do governo Major Victor Hugo (PSL-GO), em defesa da reforma do governo. Os parlamentares do Centrão contentaram-se em assistir a batalha campal entre o ministro e a oposição, com pedras (simbólicas) voando por cima das cabeças.

Mas, do ponto de vista político, Guedes conseguiu, em determinado momento, levar às cordas os deputados do PT. Quando lhe exigiram cobrar dos super-ricos a conta do ajuste, ele retrucou: “Falem a verdade, vocês estavam há quatro mandatos no poder e não fizeram nada. Por que deram dinheiro para a JBS? Por que deram dinheiro do BNDES? Por que não botaram imposto sobre dividendo? Por que deram benefício para bilionário? Nós estamos (no governo) há três meses. Vocês tiveram 18 anos e não tiveram coragem de mudar. Não pagaram nada, não cortaram nada. O Psol nasceu porque o PT fechou questão (a favor da reforma da Previdência)”.

No caso, não se trata de mera opinião de Paulo Guedes. Ele expôs uma verdade factual. Os petistas podem até ter algum tipo de explicação para não terem feito o que exigem do atual governo, mas os fatos são irrefutáveis.

É uma frase conhecida, atribuída ao senador americano Daniel Patrick Moynihan (1927-2003), mas sempre é bom repeti-la: “Você tem direito às suas próprias opiniões, mas não tem direito a seus próprios fatos”.