Escrevi neste blog e comentei no programa radiofônico Revista O POVO/CBN que considerei bastante significativas a mobilização em apoio ao governo Bolsonaro realizada no domingo (26/5/2019). Este setor mais radicalizado do bolsonarismo, escrevi, acompanhará o líder, mesmo que ele se jogue no abismo. Anotei ainda que era esperar para ver se Bolsonaro preparava-se para agir como faz Nicolás Maduro na Venezuela, apostando no apelo direto às ruas, desconsiderando o Congresso, ou se iria conformar-se com a institucionalidade. Na rádio comentei que esse setor fiel a Bolsonaro – guardadas as diferenças ideológicas – parece com o fenômeno de um segmento importante do petismo, que acompanha, incondicionalmente o Partido dos Trabalhadores.

Bolsonaro conseguiu, portanto, tornar-se líder de um grupo de extrema-direita, que já existia no Brasil, mas nunca havia conseguido organizar-se após a redemocratização. É um setor minoritário entre os que votaram no atual presidente, porém significativo, e que vai continuar atuante por um bom tempo.

O problema para Bolsonaro é que as condições favoráveis existentes quando ele assumiu o mandato estão esvaindo-se rapidamente e o governo não consegue acertar-se: é um bate-cabeça constante entre eles próprios, e nem é preciso dar exemplo, pois eles são frequentes. O fato de ele ter demonstrado que consegue mobilizar seus seguidores mais fiéis, não lhe garante governabilidade, nem mais poder sobre o Congresso.

Além da queda da popularidade entre os eleitores, o chamado “mercado” também está perdendo a paciência com Bolsonaro. Recentes pesquisas da XP/Ipespe mostram a situação. Uma consulta exclusiva com “agentes do mercado”, mostrou que os percentuais de confiança no governo vem caindo vertiginosamente. (A XP é uma empresa de investimentos, considerada uma das maiores corretoras do Brasil.)

Observe a pesquisa realizada entre os dias 20 e 21 de maio, com mil eleitores de todas as regiões do país.

 

Veja que o índice de “ótimo e bom” caiu seis pontos desde janeiro, ficando em 34% em maio; enquanto isso, o percentual de “ruim e péssimo” saiu de 20% para 36%, crescimento de 16 pontos percentuais. Foi a primeira vez em que o índice negativo superou o positivo.

Entre os “agentes do mercado”, a aprovação teve uma queda brutal, de 72 pontos percentuais desde de janeiro. Saiu de 86% de “ótimo e bom” para 14%. O “ruim e péssimo” aumentou 42 pontos percentuais, crescendo de 1% para 43%.

Costuma-se dizer que pesquisa assemelha-se a uma fotografia, pois retrata um momento congelado no tempo, o que não deixa de ser verdade. No entanto, quando se tem uma série de pesquisas, ela torna-se um filme em movimento, indicando qual a sua tendência.

Como se pode observar nas pesquisas, a tendência é inequivocadamente de redução de popularidade. Sem uma medida importante para sustar os motivos queda, ela tende a continuar. E, até agora, fora a reforma da Previdência, que não terá resultados imediatos, não há nenhuma proposta do governo que possa estancar a queda de popularidade ou inverter essa tendência.

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>> Pesquisa com a população.
>> Com agentes do mercado.

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