Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, O POVO, edição de 1º/8/2019.

Cooptação

É irrefutável, pois nem mesmo o próprio Deltan Dallagnol nega – e se negasse a realidade o confrontaria -, que o procurador viu na Lava Jato uma mina de ouro à sua disposição, uma lavra a ser extraída por meio de palestras regiamente pagas.

A maioria dessas palestras era contratada por empresas ou empresários, com interesse em vários setores da economia. Claro que participar de um encontro desses, por si só, não representa ilegalidade. No entanto o negócio das palestras está cercado de conflitos éticos, o que deveria levar um funcionário público a ter mais prudência. Também seria aconselhável regulação e mais transparência na atividade. Por que entidades empresariais pagariam R$ 30 mil por uma palestra para Dallagnol deitar falação sobre ele mesmo?

Ora, as empresas pagam tais valores, não para fazer-lhe diretamente qualquer proposta indecente. Desembolsam o dinheiro para fazer “network”, para se aproximarem de quem tem poder. Deltan, um apagado procurador de Curitiba, de repente, vê-se alçado ao posto de celebridade jurídica; assim, interessa à elite mantê-lo por perto, cooptar sua amizade para tomar um chá vez por outra e, eventualmente, trocar umas ideias.

Além dessas palestras “abertas”, Deltan participou de pelo menos um encontro secreto, patrocinado pela XP Investimentos – com “compromisso de confidencialidade” -, no qual representantes, do Brasil e do exterior, dos bancos J.P. Morgan, Goldman Sachs e Deutsche Bank foram convidados para conversar com ele, em junho de 2018, conforme divulgou o Intercept Brasil. Procuradores chegaram a discutir se haveria risco à imagem aparecer ao lado de banqueiros. Deltan respondeu: “Achamos que há risco, mas o risco tá bem pago rs”.

Em um vídeo conseguido pelo site DCM, Deltan abre a palestra fazendo propaganda do patrocinador do encontro: “Eu me tornei cliente da XP. Estou naquele grande percentual de clientes altamente satisfeitos”. Provocou risos na plateia.

PS. Estarei de férias por 30 dias.

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