Por Carlos Mazza
É comum que candidatos a qualquer cargo público evitem – sobretudo em ano de eleição – entrar em polêmicas ou grandes embaraços com a opinião pública. Na estrutura das campanhas, fileiras de assessores e marqueteiros são recrutados com a única missão de preparar o concorrente para evitar controvérsia e criar uma imagem “paz e amor” com o eleitor.
Jair Bolsonaro (PSL), no entanto, segue lógica inversa. Em entrevista ontem ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o capitão reformado deixou claro que não só surfa no choque direto com o bom senso, como com certeza precisará disso para se manter relevante na disputa. Na uma hora e meia de entrevista, só uma coisa ficou clara: Bolsonaro precisa da controvérsia.
Questionado sobre questões polêmicas, Jair Messias culpou africanos pela escravidão, colocou sob suspeitas a – internacionalmente incontroversa – morte sob tortura do jornalista Vladimir Herzog e voltou a atacar miseráveis comunidades quilombolas. Nada disso importa para seus seguidores, que já conhecem de cor as respostas do “mito” sobre essas questões.
Ao contrário dos demais candidatos, é aí que reside a zona de conforto de Bolsonaro. Partindo para o choque, o candidato tem oportunidade para soltar frases de efeito que serão editadas e compartilhadas aos milhões nas redes sociais. O que pouco assusta quem já conhece o perfil do candidato, mas pode ajudar o “recém-liberalizado” a conquistar votos de indecisos.
Outra parte do programa, no entanto, revelou quadro constrangedor. Questionado sobre mortalidade infantil, Bolsonaro falou sobre saúde bucal. Ao ser cobrado sobre o desemprego no campo, o candidato culpou fiscalizações do Ibama pela falta de oportunidades no meio rural. Logo ele, com histórico de polêmicas com o órgão (procure no Google). E por aí vai.
Feitas a qualquer outro candidato, este tipo de pergunta geraria respostas montadas em laboratórios de marketing e que pouco provocariam no espectador além de bocejos e uma ocasional mudança de canais. Feitas a Bolsonaro, no entanto, questões básicas sobre gestão evidenciam um total despreparo e falta de tato mínimo com a coisa pública.
Assim como Donald Trump nos EUA, Bolsonaro certamente já sabe que é no enfoque da polêmica que vive sua real força. Fora disso, ele pouco teria a oferecer. Na ânsia por surfar na polarização do País, adversários do capitão têm centrado esforços em pintar o candidato como racista, homofóbico e defensor de regimes autoritários. Talvez fosse mais eficaz perguntar sobre o preço do feijão.
Seria melhor dizer logo: não sei em quem vou votar, mas faço anti-campanha pro Bolsonaro, isso eu já sei.
Antes de seguir, aviso: não votarei nele. De modo algum, nem no 1 e nem no segundo turno.
1) na verdade quem faz a polêmica é a mídia que em 1 hora e meia fez 2 perguntas programáticas e focou o resto do tempo todo em “polêmicas”. A estratégica de combate ao crime dentro do RJ não é assunto pra candidato a presidente e sim para candidato a governador, o tema da ditadura é assunto para debater com juristas, historiadores, sociólogos, filósofos e não com candidatos a presidente numa sabatina. Que se fizesse uma perguntinha pontual sobre isso, ok, tudo bem… mas 90% da entrevista é estarrecedor.
2) sempre é bom lembrar que candidatos (principalmente em campanha franca e aberta – caso do Bolsonaro) não respondem para jornalistas e sim para seus eleitores (consolidados ou em potencial). Logo, considerar falas (principalmente em entrevistas) apenas sob o ponto de vista ilhado do contexto da fala é burrice. Ali o publico alvo da fala do Bolsonaro não é o entrevistador e sim o telespectador, sobremaneira seus potenciais eleitores (consolidados ou não). Se vc não entender isso vc não entende nada. Todos fazem isso,conscientemente ou não, orientados por marketeiros ou não. Casa fala em público de um candidato é parte da peça/encenaçao eleitoral.
3) sim, não nos esqueçamos que a eleiçao é um teatro. Não necessariamente os candidatos precisam mentir, mas preciaam fazer um jogo de luz e sombra de modo a esconder seus defeitos e exaltar suas qualidades (aos olhos do eleitorado e não dos jornalistas – bom lembrar). Trump, citado pelo blogueiro, fez isso: em determinado debate contra Hillary disse que “se ele fosse presidente ela estaria presa” e logo após vencer a eleiçao fez um discurso de vencedor elogiando a senhora Clinton. Trump parecia ser um sujeito meramente truculento e sem traquejo político, mas conseguiu num espaço de 2 ou 3 anos vencer as previas do partido republicano (contra pre candidatos MUITO versados em debates/retória como Ted Cruz e Marco Rubio) e a candidata de Holywood (a senhora Clinton) nas eleiçoes, ja como governante americano conseguiu um acordo de paz com a Coreia do Norte no plano geopolitico, tenta resolver o problemas das familias de imigrantes ilegais (sim, nao foi ele quem criou esse problema, a maioria das fotos e vídeos das crianças enjauladas que vc que le o que escrevo agora ve é da época do Obama… é que eles “esquecem” de contar esse detalhe – por isso o tema saiu de pauta tao rapidamente!!) e esta fazendo baixar fortemente o desemprego no país. Tem hoje um dos maiores indices de aprovaçao de um presidente americano na historia. O que ele falou na campanha ficou por lá… o importante é o que ele faz agora. Nao dá pra julgar o nivel de preparaçao de um candidato a presidente por suas falas como candidato… lembro bem na ultima eleiçao a presidente do brasil a senhora que foi eleita prometeu alhos e quando (re)eleita entregou bugalhos.
Falou tudo, Oliveira.