É estarrecedor que o candidato a vice-presidente da chapa que lidera as pesquisas de intenção de voto tenha dito o que afirmou o general Antonio Hamilton Mourão (PRTB). “Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem, Edson Rosa (vereador que estava na mesa, negro), nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural”.

O discurso é racista, é estereotipado, é raso. Mas, não é só isso. Não é apenas contra o negro e contra o índio. O que ele ataca é a própria ideia de miscigenação, a formação básica do brasileiro. E, para além de um discurso violentos contra negros, índios, mestiços em geral, o general ataca o brasileiro como regra. Critica os eleitores de quem pretende ter o voto. E, sabe o que mais? Ele não perde votos com isso.

Porque muito brasileiro escuta isso e pensa: o brasileiro é malandro e indolente mesmo. Não, o sujeito que pensa assim não se inclui. Como o cara que quer ir morar em Miami ou Portugal e lê sobre imigrantes e se acha europeu ou americano. Não percebe que é um dos imigrantes, visto por eles dessa forma.

Para além disso, o discurso é revelador da natureza da abordagem de Jair Bolsonaro (PSL) para os problemas do Brasil. Vai além das políticas públicas. Ele fala de aspectos comportamentais, de características que enxerga na índole do brasileiro. Dimensões atávicas da personalidade. É nessa dimensão moral e comportamental que o candidato pretende atuar. Afora liberar o uso de armas, tudo que Bolsonaro representa está mais na dimensão da vida privada que da esfera pública.

Podcast

Bolsonaro é o favorito para vencer a eleição? Escute o debate entre jornalistas do O POVO no podcast Jogo Político:

Listen to “#00 – Piloto do Jogo Político” on Spreaker.

Leia mais notas na coluna

Tagged in:

About the Author

Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

View All Articles