Cabo Daciolo, candidato do Patriota à Presidência, rouba a cena durante debate ontem à noite na Bandeirantes (Foto: reprodução)

Deputado federal, ex-bombeiro e pastor evangélico, Cabo Daciolo (Patriotas) magnetizou a audiência das redes sociais durante o primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República, ontem, na TV Bandeirantes.

O parlamentar, que já passou por três legendas – entre elas o Psol, da qual foi expulso –, surpreendeu pelo seu desempenho. Marcada por gestos enérgicos, quase burlescos, e reiteradas menções à Bíblia e ao comunismo, a performance inusitada do estreante em disputas presidenciais catapultou o seu nome para o topo dos termos mais buscados na internet.

Apresentando-se como novidade, pedindo sua inclusão nas pesquisas de intenção de voto e invocando “glórias a Deus” a cada bloco do programa, Daciolo referiu-se constantemente a seus adversários como a “velha política”.

Foi assim quando fez pergunta direta ao candidato tucano Geraldo Alckmin sobre as alianças com partidos do “centrão” (DEM, PP, PR, PRB e SD).

Ao se dirigir a Ciro Gomes (PDT), acusou-o de haver fundado o Foro de São Paulo e a Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), espécie de símile da URSS, mas em solo americano.

Entre o cômico e o assustado, o pedetista respondeu que “a democracia é uma delícia e uma beleza, mas tem certos custos”. E engatou explicação sobre outro ponto de seu programa de governo sem qualquer relação com a teoria da conspiração de que era alvo.

Mas Daciolo incomodou sobretudo o também deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). Por uma razão simples: os dois parlamentares disputam eleitorado no mesmo diapasão político. Nessa queda de braço com o capitão da reserva e líder dos levantamentos de voto até aqui, o pastor fez milagre e levou a melhor.

E não apenas nas redes, mas no próprio embate presencial, no curso do qual o candidato do Patriota acabaria ofuscando o militar, tornando-se um dos assuntos mais comentados no Twitter.

Aos 42 anos, casado e pai de três filhos, Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos é tudo que Bolsonaro não gostaria de encontrar entre seus adversários.

É mais virulento, mais despojado e absolutamente à vontade diante das câmeras a ponto de se sentir confortável para dizer que “o grande problema do Brasil é a falta de amor”. Ou que no País “há 400 bilhões de sonegadores”.

Num ataque de autocrítica feroz, o deputado também falou que os primeiros a roubar são sempre os engravatados – ele mesmo, por óbvio, usava o acessório.

Nascido em Santa Catarina, mas baseado no Rio de Janeiro, Daciolo foi eleito deputado federal com 49 mil votos. Já passou por PEN, PTdoB e Psol, aonde chegou após liderar uma greve dos Bombeiros ainda na gestão de Sérgio Cabral, em 2011. Findo o motim, foi preso. A sanção foi a perda do cargo.

Do partido de Guilherme Boulos, foi mandado embora em 2015 depois que sugeriu mudar um trecho do texto constitucional: de “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”!

Na vida parlamentar, acumula episódios hoje folclóricos, como quando, da tribuna da Câmara, profetizou que a colega Mara Gabrilli (PSDB) voltaria a andar depois de uma oração que ele mesmo cuidara em lhe fazer – a parlamentar é cadeirante até hoje.

Também já tentou criar a Semana Nacional de Adoração a Deus, sempre nos primeiros sete dias de cada ano, e impor o ensino da Bíblia nas escolas públicas. Ambos os projetos foram derrotados.

Certa vez, enquanto discursava no seu vozeirão de pregador, rogou a Michel Temer (MDB) lá do Plenário: “Abandone a maçonaria! Abandone o satanismo! Arrependa-se dos seus pecados e venha correndo para Cristo!”.

No debate de ontem, foi mais comedido. Encerrou sua participação lendo a Bíblia. Abriu o livro sagrado em Jeremias, no qual encontrou passagem citando expressamente a “nação brasileira”.

Foi outro de seus milagres.

Confira abaixo momento em que Cabo Daciolo acusa Ciro Gomes de ter criado o Foro de São Paulo e a Ursal:

 

https://youtu.be/l7hYltO3-50

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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