O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) não poderia escolher para seu governo alguém que trouxesse mais apoio popular, respaldo, mais sintonizado com os ideais dos 57,79 milhões de eleitores que o elegeram. Nem alguém que, nos últimos quatro anos, tenha tido mais destaque na área que irá administrar que o juiz Sérgio Moro.

Um grande, grande gol para Bolsonaro. O maior de todos na montagem do governo e no planejamento das ações. Traz o juiz federal para dentro da administração, Torna-o um aliado político e de forma explícita. Não poderia haver respaldo melhor para Bolsonaro neste momento.

Juiz Sérgio Moro

Moro terá status de superministro

Para o juiz, porém, o resultado não é tão bom e pode ser bem ruim. O que ele tem a ganhar? Tornou-se ícone do combate à corrupção, homem que pôs na cadeia empresários e políticos poderosos. Condenou e mandou prender um ex-presidente da República, que liderava as intenções de voto até ser retirado da disputa. Por outro lado, tem muito a perder. Não deixa de atrelar sua imagem à de um político, um governo. Tem muito capital a arriscar numa experiência totalmente nova e com muitos problemas a resolver. Nunca foi gestor. Terá desafios inteiramente novos.

Para fortalecer sua imagem, sua lenda perante os admiradores, Moro só tem um caminho: fazer ainda mais, fazer com que ainda mais gente seja presa, combater ainda mais a corrupção.

Problemas a administrar

O superministério é um superbalaio de problemas. Estão lá dentro o combate à corrupção, ao tráfico de drogas, controle de fronteiras, aeroportos, fiscalização de verbas públicas, sistema penitenciário… Se Moro conseguir que os problemas em todas essas áreas não aumentem, já terá sido um feito. São todos potenciais geradores de desgaste.

Só um super-homem controlaria tudo. Não dá para evitar que alguém de sétimo escalão, numa unidade estadual, seja flagrado recebendo propina. E aí, será desgaste para o ministro. A chance de ele sair menor do que entra é muito grande. Isso só não ocorrerá caso Moro se mostre realmente alguém com poderes e capacidades excepcionais. É um desafio monumental. Ao aceitá-lo, o juiz demonstra coragem. E, também, que acredita na própria lenda.

Para Bolsonaro, outro senão. O ministro é tão forte, mas tão forte, que rivaliza com o próprio presidente. É o tipo de indicado que não pode ser demitido, salvo numa ruptura brutal e que terá sequelas terríveis. De outro lado, Moro poderá impor exigências, pois sabe que o eventual pedido para sair do governo – ainda que signifique não poder voltar à magistratura – desgastará profundamente o governo.

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Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

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