Posto para fora do Governo depois de uma via-crúcis de vergonha e exposição pública, o agora ex-ministro Gustavo Bebianno segue como uma caixa-preta de Jair Bolsonaro (PSL).
A se crer nas declarações esparsas que o ex-presidente do partido do presidente foi dando desde a última quarta-feira, quando estourou a crise das “laranjas” do PSL, o Planalto não terá sossego com a sua saída.
A decisão, como quis fazer crer o pesselista, não é de foro íntimo. Bolsonaro foi levado a demitir o seu braço-direito. Ainda que tenha tentado atenuar os estragos, eles estão feitos, e seu potencial de contaminar o ambiente político pode ser maior do que se supõe.
Depois de recusar postos no próprio Governo, como a direção de uma estatal e um cargo no Itamaraty, além de ofertas em gestões estaduais aliadas, Bebianno sai sem esconder sua contrariedade.
Sua queda, a primeira da era Bolsonaro, também pressagia tempo ruim para o Planalto, sobretudo por ter sido motivada por série de denúncias da Folha de S. Paulo.
Todavia, ela não encerra a crise das “laranjas”, que implica outro dos auxiliares do presidente, o ministro do Turismo e ex-presidente do PSL em Minas Gerais.
A demissão, que levou cinco dias para acontecer e veio sob forte pressão de um dos filhos de Bolsonaro, causa instabilidade na base governista na Câmara, ainda em formação.
A impressão é de que qualquer um que entre em rota de colisão com a família pode ter o mesmo destino de Bebianno: ser jogado à própria sorte.
Para um governo que está apenas começando e com pretensões tão amplas, trata-se de risco imenso.
Bolsonaro, que tem menos de 50 dias no cargo, parece já às voltas com problemas suficientes para comprometer a sua agenda econômica.