Mais que desmentir o presidente da República, os áudios de conversa entre Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno (ex-secretário-geral) divulgados por “Veja” mostram que a relação entre chefe e auxiliar já estava seriamente comprometida e que, de normalidade mesmo, não havia nada.
Os dois se mostram preocupados: Bebianno com a irritabilidade do presidente, Bolsonaro com o que considera uma tentativa do então ministro de jogar a crise das “laranjas” no seu colo.
Bebianno buscou para pacificar a situação e resguardar-se. Bolsonaro fugiu de Bebianno para se proteger. Ambos acabaram jogando mais lenha na fogueira.
Para além da querela pessoal entre um ministro e o chefe do Estado, no entanto, o que revela o conteúdo das gravações?
Que o presidente temia ser contaminado pela série de denúncias de candidatos “laranjas” mais do que estava disposto a investigá-las, tanto que vetou a ida de Bebianno ao hospital Alberto Einstein, onde esteve internado por 17 dias.
Que Bolsonaro estava incomodado com a proximidade de Bebianno e a imprensa, a ponto de acusá-lo de vazar informações para “O Antagonista” e Folha.
Que o presidente de fato está sob a tutela do filho Carlos.
Moral da história: a crise, que já não era pequena, aumenta de tamanho, em parte porque Bolsonaro foi inábil do começo ao fim.
Em parte porque o filho do presidente deu a senha para o que pode se tornar um perigoso lugar-comum no governo de agora em diante: o vazamento de conversas privadas como arma política.
Se o PSL já não se entendia antes disso, e os grupos de Whatsapp da legenda pegavam fogo madrugada adentro (vide caso Joice x Eduardo Bolsonaro), a desconfiança dentro do partido chega agora a outro patamar.
Quem tiver suas mensagens e áudios reveladores, que trate de escondê-los muito bem.
Eleito pelas redes sociais, Bolsonaro viu uma marola se transformar em tsunami por causa das mesmas redes.
O Twitter e o Whatsapp elegem, mas também podem ajudar a derrubar.