Deus me faça brasileiro

criador e criatura

um documento da raça

pela graça da mistura

[Fragmento de estrofe da canção “Meninas do Brasil”, música de Moraes Moreira e letra de Fausto Nilo]

O nosso compositor maior, Fausto Nilo, orgulho do povo cearense,  legou ao cancioneiro brasileiro uma bela canção, fruto de uma parceria com Moraes Moreira e imortalizada na voz deste último. A canção, intitulada “Três meninas do Brasil”, enaltece a mistura racial brasileira.  

Nunca será demais falar da diversidade cultural brasileira. Não foram poucos os estudiosos que, debruçando-se sobre a peculiaridade da cultura brasileira, encontraram na mistura racial – que, por sua vez, consequenciou uma grande diversidade cultural – uma das razões fundantes de sua singularidade.

Tal diversidade deveria ser motivo de orgulho para todos nós, brasileiros. Aqui o diferente convive harmoniosamente, lado a lado. Uma das condições para a convivência saudável é, exatamente, o reconhecimento e respeito pela singularidade, pelo diferente, pelo diverso.

No Brasil, provavelmente mais que em qualquer outra nação, cada cidadão é levado, cotidianamente, a conviver com a diversidade. E que diversidade! Isso deveria ser  motivo de orgulho, entre outras coisas, pela riqueza que confere à nação brasileira. Fala-se muito das riquezas naturais brasileiras. Mas nunca se falará o bastante da riqueza cultural de nosso povo. Tal riqueza se manifesta nos mais diversos âmbitos, podendo-se mencionar aqui, a guisa de exemplo, a literatura, a religião e a música.

Já houve, em tempos de antanho, quem apontasse a mistura de raças peculiar ao Brasil, país cuja formação está assentada na miscigenação entre o índio, o branco e o negro, como causa do subdesenvolvimento do país. O argumento carece de fundamentação científica, parecendo-nos muito mais lícito afirmar que foi, exatamente nessa miscigenação, nessa mistura, que o brasileiro encontrou a força que vem de sua capacidade de improviso, de sua infinita criatividade que o torna apto a encontrar formas de driblar as dificuldades mesmo em situações as mais periclitantes e desesperadoras.

Por isso, eu arriscaria afirmar que a mistura, aqui, é realmente graça, como diz a canção. E graça, nesse caso, tem uma dupla acepção. É graça porque confere ao povo brasileiro  a característica do belo; e é graça, igualmente, porque a miscigenação é uma dádiva que foi conferida à nação brasileira, tornando-a uma das mais singulares entre todas as nações da Terra.

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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