Santo Agostinho
[A Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários. 4ª. ed. Trad. Nair de Assis Oliveira. – São Paulo: Paulus, 2007, p. 55].
Referindo-se à importância do pensamento agostiniano para o desenvolvimento e sedimentação da mariologia, afirma Ir. Nair de Assis Oliveira, Cônega de Santo Agostinho e Assessora do Centro de Estudos Agostinianos, no texto introdutório ao livro A Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários: Nossa mariologia católica atual deve muitíssimo ao grande mestre Agostinho. Suas reflexões contribuíram de maneira decisiva para a difusão do conhecimento e da devoção a Maria em toda a Igreja. A tal ponto que podemos afirmar, sem receio de exagero, que a substância do culto mariano de nossos dias encontra na obra agostiniana uma de suas mais convincentes e calorosas explicitações (p. 16).
Embora santo Agostinho não tenha dedicado uma obra exclusiva a Maria, o tema é recorrente em diversos escritos seus, conforme Ir. Nair, além do que teria sido o bispo de Hipona um dos grandes responsáveis pela disseminação da devoção à Virgem Maria a partir de meados do século V.
O livro aqui apresentado teve como referência uma outra obra, de autoria do cardeal Michele Pellegrino (1903-1987), publicada em 1954. Em que pese a referência, porém, este que ora comentamos traz alguns acréscimos e supressões em relação àquele.
Os cem textos aqui apresentados são divididos em três grupos: textos extraídos das obras redigidas do ano 388 a 411, trechos de sermões pronunciados do ano de 391 a 430 e, por último, textos extraídos dos escritos do ano 412 a 430. A cada texto do santo foi acrescentado um comentário explicativo.
A leitura dos escritos de santo Agostinho é sempre fonte de inesgotável prazer. Sua capacidade de conduzir o leitor pelos meandros do seu raciocínio sempre dotado de grande poder persuasivo é invejável. Mesmo não sendo um agostinólogo, pois conheço pouco a obra do santo Doutor, percebo em seus escritos o uso de uma forma de raciocínio que prima pela clareza. Começa-se a ler santo Agostinho e a vontade que se tem é de não mais parar. Na apresentação que faz dos argumentos aduzidos para sustentar seus pontos de vista, calcados numa lógica insofismável, o santo segue uma linha de raciocínio tal que se torna difícil ao leitor contradizê-lo.
Além dos aspectos acima apontados, a beleza da escrita agostiniana encanta a cada trecho, a cada linha. Quase sempre, quando o tema é Maria, os escritores fazem vir a lume o que há de mais poético em si mesmos. Parece que apenas o intuito de escrever sobre a Virgem Maria já constitui garantia suficiente de que dali brotará um texto poético. No caso de santo Agostinho, o leitor que se permitir o prazer de folhear o livro aqui comentado será agraciado com alguns textos de extrema beleza, como o que cito a seguir:
Exultem de gozo os homens! Exultem de alegria as mulheres! Cristo nasceu homem e nasceu de uma mulher. Nele, ambos os sexos estão dignificados. Que se voltem para o segundo homem todos os que haviam sido condenados com o primeiro (Adão). Uma mulher nos induzira à morte. Uma outra trouxe-nos a Vida. Dela nasceu um filho, semelhante à carne de pecado (Rm 83,). Assim, pois, não culpemos a carne, mas para que viva a natureza, morra a culpa. Pois nasceu sem pecado Aquele em quem devia renascer o que se achava na culpa (p. 84).