0425-bossa-entre-amigos-wanda-sa-roberto-menescal-marcos-valle_e-maxDesisti do meu sonho de menina de ser bailarina quando me apaixonei pelo violão. Eu tinha então 11 anos e tive que optar: acho que optei pela coisa certa porque até hoje o violão tem sido o meu grande companheiro. Eu tocava muito bolero, músicas folclóricas, italianas, imitava Maysa até ouvir Chega de saudade pelo João Gilberto. Soou como uma bomba no meu coração e também no da minha geração, que música é essa? Quem são João, Tom, Vinícius? Descobri que eles faziam shows, se encontravam nas casas etc. Corri atrás e me tornei uma super tiete com caderninho de autógrafo e tudo.

Wanda Sá

[Fragmento de texto do encarte que acompanha o CD Bossa entre amigos – Wanda Sá, Roberto Menescal, Marcos Valle]

A idéia partiu de Henrique Luz, um apaixonado pela Bossa Nova. Sua intenção era apresentar um show com um roteiro que contasse a história da Bossa Nova. Do contato inicial com Marcos Valle veio a sugestão para que fosse convidado Roberto Menescal e, a seguir, a cantora Wanda Sá. Estava constituído o quarteto que seria responsável pelo show do qual resultaria o CD Bossa entre amigos, lançado pelo selo Albatroz em 2001.

No encarte que acompanha o CD, Roberto Menescal escreveu, a propósito das origens da Bossa Nova: No final dos anos 50, nós garotos ainda, não poderíamos ter imaginado o quanto iria andar, se espalhar e vencer a música que fazíamos de uma maneira tão simples, amadora, descompromissada. Era música pela música, arte pela arte, sem a preocupação de ganharmos dinheiro com o que começava a ser conhecido entre a juventude, principalmente universitária, como Bossa Nova.

De fato esse estilo, que se tornou marca registrada da música brasileira, surgiu no final da década de cinquenta, em bairros da zona sul do Rio de Janeiro, com pequenos grupos de rapazes e moças que se reuniam para cantar e tocar violão. Tinham uma forma própria de executar as músicas, caracterizada especialmente pelo intimismo, valendo-se de acordes que os aproximavam da tradição jazzística americana. Embora a expressão bossa nova já fosse usada desde os anos quarenta no Rio de Janeiro, ela passaria realmente a designar um estilo a partir de 1958, quando João Gilberto gravou um disco com as músicas Chega de saudade (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e Bim-bom (João Gilberto). Quatro anos depois, em 1962, era realizado no Carnegie Hall, em New York, E.U.A., o primeiro Festival de Bossa Nova. Com o interesse despertado em músicos de jazz durante o festival, a Bossa Nova conquistava os Estados Unidos e, daí, diversos outros povos.

O CD Bossa entre amigosWanda Sá, Roberto Menescal, Marcos Valle – que, além dos três músicos citados conta também com a participação de Patrícia Alvi -, proporciona ao ouvinte ao longo de suas 17 canções uma agradável incursão pela sonoridade suave e intimista características da Bossa Nova. Nele se encontram alguns clássicos como O barquinho (Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli), Este seu olhar (Tom Jobim) e Viola enluarada (Marcos Valle). É um disco para ser ouvido e preservado como documento, retalho emblemático de um estilo que muito contribuiu – e continua a fazê-lo – para inscrever o Brasil no cenário musical internacional.

Marcos Valle finaliza o texto escrito para o encarte fazendo uma afirmação que, seguramente, seria endossada por músicos, pesquisadores e quantos mais atestam a importância da Bossa Nova na história da música: Tenho a certeza de que nosso trabalho musical, refiro-me ao conjunto de autores que chamamos Bossa Nova, é eterno. Orgulho-me de fazer parte desta turma maravilhosa que mudou os rumos da música brasileira e influenciou significativamente – e ainda o faz – a música de qualquer parte do globo. Bossa Nova pra sempre!

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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