Eis agora a instituição do augusto sacrifício. Momento solene! Soou a hora do Amor. É a páscoa mosaica que se consome; é o Cordeiro real que substitui o figurativo; é o Pão da Vida, o Pão do Céu, que toma o lugar do maná do deserto. Tudo está preparado. Os Apóstolos, a quem o Mestre acaba de lavar os pés, estão puros. Jesus senta-se modestamente à mesa, pois era mister participar da nova Páscoa sentado, repousando em Deus. Faz-se, em torno, grande silêncio. Os Apóstolos, atentos, observam tudo. Jesus recolhe-se em si mesmo, toma o Pão nas suas Mãos Santas e veneráveis, eleva os Olhos ao Céu e, dando graças a seu Pai por ter chegado a hora ansiosamente esperada, estende a Mão e benze o Pão… E, enquanto os Apóstolos, penetrados de profundo respeito, não ousam perguntar a significação desses símbolos tão misteriosos, Jesus pronuncia estas palavras arrebatadoras, tão poderosas como a palavra criadora: “Tomai e comei, isto é o meu Corpo. Tomai e bebei, isto é o meu Sangue”. É o mistério do Amor que se consuma. É Jesus que cumpre com sua palavra. E nada mais lhe restando a dar que sua Vida mortal na Cruz, Ele a dará, para depois ressuscitar e tornar-se nossa Hóstia perpétua de propiciação, Hóstia de Comunhão, Hóstia de adoração. O Céu extasia-se à vista desse mistério. A Santíssima Trindade contempla-o com amor. Os Anjos o adoram, tomados de admiração. Os demônios têm frêmitos de raiva nos infernos. Sim, Jesus, tudo está consumado! Nada mais tendes a dar ao homem para lhe provar vosso Amor. Agora podeis morrer, e, na própria Morte, não nos deixareis. Vosso Amor eternizou-se na terra. Voltai ao Céu de vossa Glória; a Eucaristia será o Céu de vosso Amor. 

São Pedro Julião Eymard

[A Divina Eucaristia: Extratos dos Escritos e Sermões de São Pedro Julião Eymard. Tradução do francês de Mariana nabuco. Volume 1 (A Presença Real). São Paulo: Servas do Santíssimo Sacramento da Adoração Perpétua: Distr. Loyola de livros: Palavra e prece Ed. Ltda., 2007. p. 37].  

São Pedro Julião Eymard foi um dos santos que mais se ocupou do tema da Eucaristia. Era grande devoto do Santíssimo Sacramento, o que o levou a fundar duas congregações: a Congregação do Santíssimo Sacramento e a das Servas do Santíssimo Sacramento. Os textos que compõem os cinco volumes de A Divina Eucaristia: Escritos e Sermões de São Pedro Julião Eymard são simplesmente lindos. A coleção é uma compilação feita principalmente a partir das notas que tomava para a preparação dos sermões. Os textos do Padre Eymar primam pela beleza poética e mística. O relato que ele faz da instituição da Eucaristia na quinta-feira da paixão, aqui citado em epígrafe, inscreve-se, muito provavelmente, dentre alguns dos mais belos textos já escritos sobre o assunto.

Pedro Julião Eymard nasceu no dia 4 de fevereiro de 1811, em La Mure,

São Pedro Julião Eymard

São Pedro Julião Eymard

diocese de Grenoble, França, e faleceu em 1º de agosto de 1868 na mesma cidade em que nascera.

No volume 5 da coleção aqui referida, no fragmento de uma carta do Santo endereçada a uma pessoa que se mostrava incorformada por não progredir em sua prática cristã, aconselha São Pedro Julião Eymard:

“Continuai sempre a fortificar-vos com o Pão dos fortes, pois a Santa Comunhão é o fim da vida e a sua perfeição, é a devoção régia que a tudo substitui. É-vos o magno exercício das virtudes cristãs, o sumo ato do amor, o orvalho matutino. É preciso, por conseguinte, chegar-vos à Santa Comunhão como à Graça soberana de santificação, como uma criança meiga, que nada tem, como um pobre de verdade, que de tudo carece e a quem Nosso Senhor se quer dar em sua predileção” (Vol. 5, p. 174).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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