imgExistem algumas facetas da história e da documentação da ESP em terras comunistas que não podemos revelar no momento. Talvez um dia, quando se modificarem as condições políticas, possamos concluir o relato. No caso de pessoas que nos forneceram materiais, dissimulamos as fontes, uma que outra vez, para protegê-las. Em nenhum caso encobrimos os cientistas mencionados nem, de modo algum, alteramos ou falseamos os relatórios do trabalho que está sendo feito. Esta é a história do que vimos, ouvimos e lemos acerca da ESP atrás da Cortina de Ferro. Teríamos de ser megalomaníacas para imaginar que uma quantidade de cientistas altamente conceituados, em centros espalhados por toda a União Soviética e pelos países satélites, conspirassem no sentido de publicar dados falsos durante um decênio e dar uma série de entrevistas mentirosas só para impressionar-nos quando viéssemos a topar com eles. Registramos o que os cientistas comunistas afirmam ter descoberto a respeito da ESP. Se as observações ou teorias comunistas a respeito de acontecimentos psíquicos estão certas ou erradas, é uma coisa que só pode ser determinada por novas investigações que se realizarem no Oriente e no Ocidente.

Sheila Ostrander e Lynn Schroeder

[Ostrander, Sheila e Schroeder, Lynn. Experiências psíquicas além da cortina de ferro. 3ª. ed. – Tradução de Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 19.]

No verão de 1968, duas jornalistas e pesquisadoras americanas, Sheila Ostrander e Lynn Schroeder, estiveram na Rússia, Bulgária e Tchecoslováquia, países da então denominada Cortina de Ferro, com o objetivo de estudar uma série de pesquisas em andamento sobre fenômenos parapsicológicos. Dois anos depois, em 1970, publicariam um livro dando conta de sua jornada exploratória, intitulado Experiências psíquicas além da cortina de ferro. O livro logo se tornaria um clássico, ocupando lugar de destaque entre as publicações sobre o assunto. Posteriormente, ganharia uma tradução em língua portuguesa, editada no Brasil pela Cultrix. Possuo em minha biblioteca a terceira edição, de 1980.

Dividido em três partes, cabendo cada uma aos respectivos países visitados, o livro surpreende tanto pela natureza quanto pelo volume de pesquisas relatadas. Ao longo de seu périplo, as jornalistas visitaram diversos laboratórios e centros de pesquisa, entrevistando cientistas, jornalistas, paranormais e demais pessoas envolvidas com a pesquisa da ESP. Esta sigla é a abreviatura da expressão inglesa Extrasensory perception, em português Percepção extrasensorial, motivo pelo qual também é conhecida em língua portuguesa pela sigla PES. Inclui toda uma gama de fenômenos paranormais como telepatia, clarividência, clariaudiência, precognição etc.

Pelas revelações feitas pelas autoras, conclui-se que os fenômenos paranormais eram levados muito a sério nos países da extinta União Soviética, sendo tratados mesmo como uma questão de segurança nacional. Corroborando essa conclusão, afirmam Sheila Ostrander e Lynn Schroeder:

“Os cientistas comunistas levam a sério a pesquisa psi. Não se trata de uma brincadeira. Não se trata da província dos poucos entusiastas. Já não terá chegado o momento de olharmos também para esse lado desconhecido do ser? Agora, hoje e manhã, é ocasião de pesquisas arrojadas, firmes. E já é tempo de todos nós, em todos os níveis, deixarmos a covardia de lado e obedecermos, corajosos, ao preceito vital, Conhece-te a Ti Mesmo. Não é uma questão de curiosidade intelectual. Não é uma questão de provarmos a nossa falta de preconceitos. É uma questão de sobrevivência. A humanidade está empenhada numa luta de vida ou morte – Eros contra Tânatos, chamou-lhe Freud. A dimensão psíquica tem força de vida, é o foco da criatividade e da inspiração. Tem liberdade e vida para dar aos que a tomarem. Foi por isso que alguns dos espíritos mais esplêndidos deste século – Madame Curie, Carl Gustav Jung, Franklin D. Roosevelt, William Butler Yeats, Thomas Edison, Winston Churchill, Albert Einstein – se interessaram ativamente pelo espectro psíquico. Com o estudo ordenado dessa dimensão, a parapsicologia se encontra numa junção, como a última pedra da pirâmide, onde podem encontrar-se as humanidades, a religião, a ciência e as artes” (p. 417).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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