icone16Para o homem de nosso tempo, a concepção mitológica do mundo, as representações da escatologia, do redentor e da redenção, estão já superadas e carecem de valor. Cabe esperar, pois, que realizemos um sacrifficium intellectus, para aceitar aquilo que sinceramente não consideramos verídico – só por que tais concepções nos são sugeridas pela Bíblia? Ou antes temos de passar por alto os versículos do Novo Testamento que contém tais concepções mitológicas e selecionar os que não constituem um tropeço deste tipo para o homem moderno? De fato, a pregação de Jesus não se limitou a algumas afirmações escatológicas. Proclamou também a vontade de Deus que é seu mandamento de fazer o bem. Jesus exige veracidade e pureza, a disponibilidade para o sacrifício e o amor. Exige que todo homem seja obediente a Deus, e clama contra a ilusão de que possamos cumprir nosso dever para com Deus com a mera observância de determinadas prescrições externas. Se as exigências éticas de Jesus constituem alguns tropeços para o homem moderno, só são tais em virtude de sua vontade egoísta, porém não de sua inteligência.

                                                                                                   Rudolf Bultmann

[Bultmann, Rudolf. Jesus Cristo e mitologia. Tradução de Daniel Costa. São Paulo: Novo Século, 2000, p. 15.]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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