Um homem, – era naquela noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno, –

Ao relembrar os dias de pequeno,

E a viva dança, e a lépida cantiga,

 

Quis transportar ao verso doce e ameno

As sensações da sua idade antiga,

Naquela mesma velha noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno.

 

Escolheu o soneto… A folha branca

Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,

A pena não acode ao gesto seu.

 

E, em vão lutando contra o metro adverso,

Só lhe saiu este pequeno verso:

“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

 Machado de Assis

[Assis, Machado de. Obra completa em quatro volumes: volume 3. Organização Aluízio Leite Neto, Ana Lima Cecilio, Heloisa Jahn. – 2.ed. – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, p.584. v. – (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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