Temos o Espírito. Quem se houver encontrado com a existencialidade do Espírito encontrou a sua própria existencialidade em Deus. Não podemos, nem quremos negar ou esconder e obscurecer que ouvimos o som dos céus “qual vento impetuoso”ou negar que vimos a Nova Jerusalém, que tomamos a eterna decisão e que estamos “em Cristo Jesus”.

Porém, o que significa “ouvir”, “ver”, “estar?”

Se começarmos a acentuar as nossas vantagens e os nossos méritos raciocinando e discorrendo em termos de “nós”mesmos, ou daquilo que “temos” ou “possuímos”, então ingressamos e nos assentamnos nos arraiais da religião. Nem podemos pretender estar falando do Espírito quando o colocamos em conotação ou o relacionamos com as nossas próprias pessoas ou quando o temos em nossa vida. Contudo, precisamos contar que o temos e é certo que se não anunciamos que o recebemos, todavia pensamos e, se não pensamos, pelo menos sentimos pois, de fato, RECEBEMOS O ESPÍRITO!

Karl Barth

[Barth, Karl. Carta aos Romanos. De Karl Barth por Koller Anders, segundo a quinta edição alemã (impressão de 1967). Tradução Lindolfo Anders; revisão Anisio Justino. São Paulo: Fonte Editorial Ltda., 2005, p. 429.]

Na tradição cristã fala-se  muito do Espírito. Ancorados na perspectiva da manifestação trinitária de Deus consubstanciado nas três pessoas, quais sejam, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, ganha esta última relevo quando se pretende falar do sopro alentador que se manifesta na história humana impelindo o ato e a palavra que transformam. Embora liguemos aqui ato e palavra por um conectivo, como se se tratasse de duas coisas distintas, na verdade, em se tratando do Espírito manifestado, tal distinção se faz, em última instância, desnecessária, pois a palavra já é, em si, ato, expressão do FIAT primordial pelo qual tudo foi feito.

Do meu ponto de vista, Deus é a experiência pessoal da sacralidade do universo. Sob essa perspectiva, quero dizer que a crença em Deus de nada vale enquanto não se tornar uma experiência existencial, experiência essa que tem por característica primordial a prerrogativa de abalar profundamente as estruturas da vida, transmutando-a sob os mais diversos aspectos.

Pois bem, é sob o influxo do ESPÍRITO que ela acontece, não como fruto do esforço pessoal ou do desejo, mas pura e simplesmente por efeito da graça. Tal premissa, porém, não nos deve fazer desisitir de buscar a experiência do Espírito pois, em que pese o que afirmamos a propósito da graça, a natureza, parece-me, de alguma forma participa e favorece a ação do Espírito, embora predomine a graça.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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