Já basta de conversas bobas/prosas inocentes – quem não sabe a veracidade/e ainda não descobriu o seu ser radiante… // Entretanto, não é isso que procuro/por que teima…/Realmente é um absurdo/ o que fazer… requeiro auxílio. //  Cansado dessa extensa jornada…/Aspiro encontrar uma cintilância/Luz Divina para ajudar a alcançar o alvo. // Não desejo jogos, passeios inúteis/nem me deparar com pessoas inválidas, chega/de cargas negativas – pesadas… // Não quero ir para trás e sim para diante de você/Leve-me… sou a sua imagem… veja se me enxerga/E conduza-me no seu íntimo…

Alfredo Pinto Júnior

[Júnior, Alfredo Pinto. Arte de Descrever – Trajetória em Poemas – 7ª ed. Revista e ampliada. – Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2016, Papos, p. 27]

Semana passada meu sogro, Sr. Benedito Marcondes, chegou à minha casa  me trazendo um livro. Na ocasião, quase não tivemos oportunidade de conversar sobre o presente, pois eu estava meio assoberbado preparando um curso que ministraria no dia seguinte. Mas do que ele falou naquela noite, uma expressão me ficou ecoando nos ouvidos ao longo dos dias seguintes: “Vendedor de ilusões”. Esta manhã, já tendo concluído a leitura, liguei pra ele pra perguntar como aquele livro chegara às suas mãos. Disse-me ele: “Vasco, eu estava num mercadinho no Eusébio quando se aproximou de mim um rapaz com alguns livros debaixo do braço. Perguntou se eu não gostaria de adquirir um exemplar. Pelo entusiasmo demonstrado, percebi que se tratava de um vendedor de ilusões”. E concluiu: “Você já pensou, rapaz, num país como o nosso o cara sair por estes rincões do interior do Nordeste vendendo seus próprios livros! É muita coragem! No ato adquiri dois exemplares: um pra mim e um pra você”. Referia-se ele ao livro “Arte de Descrever – Trajetória em Poemas”, do poeta paraibano Alfredo Pinto Júnior, sobre o qual tecerei, a seguir, algumas breves impressões provocadas em mim pela leitura .

Uma das tônicas da poética de Alfredo Pinto Júnior é o romantismo, o amor a dois, expresso em versos como os do poema Minha “sorte”: “No mundo afora te conheci/um mundo sem cores, sem flores/sem meios, sem soma. // Não sei o porquê de tanta sorte/que sorte a minha! Minha sorte. // Eu, uma criança perdida com o olhar para o além/com ânsia, sem vontade de viver/te conheci – admiti a minha linda, fina flor. // Oh! Que tanta sorte, sorte minha, minha sorte/ter me deparado com você/ e nos nossos abraços o consolo, a esperança…/a inspiração de viver uma nova vida/uma nova criação, uma nova visão. // Nas estradas que hão de vir/com o coração a palpitar, iremos juntos/com os olhares ativos, altivos/com o sorriso esplêndido iremos alcançar // Assim, iremos chegar” (p.44).

Poema que tem seu complemento em outro, intitulado Lindo visual, que é quase uma continuidade do anterior, no qual tece loas à esposa amada: “Ao me encantar fico a imaginar/os frutos que iremos desfrutar/ e a delícia do bem estar. // Lindo é, exuberante o seu interior/a sua fisionomia, seu exterior/e o nosso verdadeiro amor. // Ao estar com você sinto a melodia infinita/harmonia pré-estabelecida, o viver da natureza // ouço o sibilar dos pássaros/o soprar dos ventos, o dançar das folhas. // Ó minha primeira tudo…/E sempre esposa” (p. 45).

A temática da busca espiritual, mais especificamente, do amor a Deus, é outro fio condutor da criação poética do autor, patenteada em poemas como Ó meu Deus: “Ó meu Deus, muito obrigado/por ter me salvado/por ter nos livrado/por saber do meu medo/por ver a minha cegueira // Ó Senhor, muito obrigado/por ter me salvado. // Ó Pai, meu Deus, muito obrigado/ por ter me salvado/por ter nos livrado/por saber do meu medo/por ver a minha cegueira  // Ó Senhor dos Exércitos,/muito obrigado por ter me salvado!”(p. 53)

Saliente-se, ainda, a completar o viés místico-religioso dos versos de Alfredo Pinto Júnior, os diversos poemas em que sobressai a figura daquele que o poeta escolheu para seu Mestre, ratificado, por exemplo, num poema cujo título, “Ó Jesus…!”, é uma invocação ao homenageado: “Pelas estradas da vida percorri pelas sombras…/Sem o raio de luz, sem visão. // Mas os encontrei ao conhecer as palavras infinitas/as verdadeiras palavras, a Palavra do Senhor. // Ó Jesus não demores não!/precisamos de Paz, eterna Paz/a Paz do Senhor. // Ó Senhor…/Deus, por favor! (p. 82).

Um discreto toque filosófico também transparece em algumas de suas criações, dentre as quais destacaria os versos de Resposta: “O tempo é a melhor resposta pra tudo/tudo acompanhado com calma. // Nunca sabemos do futuro cem por cento/a não ser da primeira morte e do juízo final… // Pense no sim e não no talvez. // Os pensamentos e as ações positivas/podem se tornar realidade… // Veja o belo e não a nevoada.”(p. 46).

Nascido em 25 de março de 1977, em Capina Grande-PB, Alfredo José Pinto de Oliveira Júnior teve suas criações literárias publicadas nos jornais Diário da Borborema, PB Letras e Folha do Cariri. “Arte de Descrever – Trajetória em Poemas”, já na sétima edição, foi originalmente publicado em 2008 pelo projeto FUMIC – Fundo Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Campina Grande.

A completar o livro, o autor oferece ao leitor uma seleção de pensamentos de sua lavra, num dos quais, como alguém que elegeu a escrita poética como forma privilegiada de afirmação da existência, afirma: “Foi através das palavras que me expandi…”

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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