Ser sonhador é pensar em coisas que não existem e ter certeza de que, em um futuro não muito distante, elas estarão aqui – respondeu o monge.

Fábio Tucci Farah

[Farah, Fábio Tucci. As aventuras de Pépin, o pequeno peregrino. Ilustrações de Anna Cunha. – Belo Horizonte, MG: Lê, 2012, p. 72.]

Para falar da jornada de que tratarei neste artigo, escolhi como fundo musical as belas canções do grupo galego Luar na lubre, especialmente uma que começa com os alentadores versos que dizem “Hay um paraiso nos confins da terra”, e que escuto ao digitar essas palavras. São músicas de um CD que me foi presenteado por um amigo muito querido, o Romualdo, adquirido quando de sua peregrinação a Santiago de Compostela.

A escolha do CD se deve ao fato de que vou falar, aqui, de outro peregrino, um certo Fábio Tucci Farah, a quem tive o prazer de conhecer há pouco menos de um mês, por ocasião de uma reunião da Academia Brasileira de Hagiologia. Pois é, o Fábio e sua esposa, a Mariana, já fizeram seis vezes a peregrinação a Santiago de Compostela. Com tanta experiência no assunto, resolveu transformar suas aventuras em um relato para pequenos peregrinos. Quando soube disso, tratei imediatamente de adquirir um exemplar do livro. Pois bem, como tive que pedir pelos correios, precisei segurar minha ansiedade por alguns dias, enquanto aguardava a chegada da encomenda.

Com indisfarçável expectativa, recebi, anteontem, o pacote que os Correios me trouxeram, tendo em seu interior o aguardado conteúdo. Ao abri-lo, tinha em minhas mãos As Aventuras de Pépin, o Pequeno Peregrino. A um primeiro vislumbre, senti logo uma grande simpatia pela capa, que me fez lembrar velhos livros guardados em antigas bibliotecas. Uma folheada rápida de suas páginas reforçaram a sensação. Parecia mesmo coisa antiga, daqueles livros que, só pela aparência, já nos remetem a uma viagem a tempos de antanho.

Pouco depois, eu era apresentado a um personagens encantador, o alquimista Nicolas. Logo eu, que desde que li pela primeira vez o livro “A chave da Alquimia”, do grande Paracelso, me apaixonei pelo assunto, só poderia me sentir em casa na companhia do personagem recém-apresentado. Mas o melhor estava por vir, quando me foi dado conhecer Pépin, o Pequeno Peregrino, criação de Nicolas, assim descrito por Fábio:   

“O boneco de argila tinha três olhos de vidro – um na testa -, pequenos funis no lugar dos ouvidos, um cone como nariz e uma boca larga e comprida. Em seu peito, na altura do coração, uma portinha que se abria pelo umbigo. Para finalizar a obra-prima, Nicolas colocou uma esponjinha no compartimento interno e vestiu Pépin como um peregrino de Compostela: chapéu de abas caídas, capa e calças largas” (p. 10).

A partir daquele momento, me fiz peregrino em companhia de Pépin e seu fiel companheiro e veículo de montaria, o cão Fédon. Juntos, saímos mundo a fora em uma bela e emocionante peregrinação, ao longo da qual fomos descobrindo algumas das mais importantes emoções, sentimentos e virtudes: Saudade, Coragem, Narcisismo, Fé, Humildade, Esperança, Raiva, Fantasia, Tristeza, Medo, Alegria, Inveja, Egoísmo, Vergonha, Desespero, Paixão, Ciúme, Orgulho, Sonho, Crueldade, Solidão, enfim, tudo aquilo que nos torna humanos e nos faz ser o que somos.

A certa altura, quis conhecer melhor as pessoas que estavam me proporcionando viver aquela aventura. Descobri que Fábio Tucci Farah, o autor do livro, nasceu em São Paulo, em 1º de outubro de 1976. É formado em jornalismo, já publicou dois livros juvenis e um romance. Sua primeira história para crianças foi Pum de peixe, editado pela Abacatte, em 2010. As aventuras de Pépin, o pequeno peregrino, é seu segundo lançamento para crianças. O que achei mais curioso foi a informação que me deram de que correm boatos de que sua inspiração  para escrever este livro foi um golem que ele conheceu em uma de suas andanças pelo mundo.

Quanto a Anna Cunha, a ilustradora, nasceu em Belo Horizonte, em 1985, onde se graduou em Artes Plásticas. É pós-graduada em Ilustração pela Eina, Escola de Disseny i Art, da Universitat Autònoma de Barcelona. Disseram-me que em seus caminhos e descaminhos ela já passou também por escritórios de design gráfico, pela oficina tipográfica do Gutemberg Museum e pela editora também alemã Hermann Schmidt Verlag, especializada em publicações de design.

Retornando à minha peregrinação em companhia de Pépin e Fédon, devo dizer que a descoberta final, o maior de todos os tesouros, o Pequeno Peregrino só faria ao término de sua longa jornada, ao retornar para casa, onde o velho alquimista Nicolas o aguardava com uma surpresa, assim descrita: “O pequeno peregrino deitou-se de bruços no chão. Sentia algo corroer seu peito, como a mulher desesperada que tinha perdido o filho. Levantou-se e estava prestes a sair. Mas resolveu, antes, conferir a obra na qual seu pai vinha trabalhando. Subiu em um pequeno banco e saltou para a bancada. Foi quando ficou frente a frente com outro golem. Parecia-se com ele, mas tinha os traços do rosto mais finos. A cabeça coberta por cachos dourados, como os de Juliette. Ao lado, um pequeno vestido azul, repleto de estrelas coloridas” (p. 92).

Qual terá sido o tesouro que Pépin, o Pequeno Peregrino, descobriu ao retornar para casa e encontrar, surpreso, uma criatura semelhante a ele? Um tesouro tão valioso que, como advertiu Nicolas, “É capaz de fazê-lo descobrir o paraíso, mesmo mergulhado no inferno”. Bem, essa resposta eu não posso dar aos leitores, a fim de não lhes roubar o prazer ao qual somente terá acesso aqueles que se dispuserem a aceitar o desafio de encetarem uma emocionante jornada em companhia de Pépin e seu fiel companheiro, o cão Fédon, tendo como itinerário as belas páginas de “As aventuras de Pépin, o pequeno peregrino”.   

Concluindo, reafirmo aqui o que falei pra Naza, minha esposa, quando concluí a leitura: As Aventuras de Pépin, o Pequeno Peregrino, ficará numa prateleira da minha biblioteca aguardando o momento em que retornarei, com prazer, às suas belas páginas, para ler a história para outro pequeno peregrino, o meu neto Marcelo (por enquanto, ele ainda é muito novinho pra compreender o enredo).  

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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