O que acontece no céu se torna manifestação de uma mensagem comovente, desafiadora ou consoladora. Nesta vivência profunda das manifestações celestes, encontramos não somente o inatingível, o divinal, mas também a nós mesmos de maneira desconhecida. Reencontramos a nossa possibilidade vital original, nossa vulnerabilidade essencial e nossa esperança.

Jane de Melo

[Jane de Melo. Contos do céu – Céu: vulnerabilidade essencial e esperança. E-book. Fortaleza: agosto/2020, p. 15.]

 

O relato começa falando de um homem que chega a um consultório com uma “pergunta bombástica: Qual é a validade científica do Mapa Astral” (p. 5). Mal sabia ele que a pergunta, no caso, estava sendo formulada num contexto absolutamente incompatível com a dúvida. Embora a interlocutora do tal homem tenha formação acadêmica em psicologia, ele estava diante de alguém que declama com a mais absoluta convicção, sem nenhum temor de estar infringindo a ciência ou desafiando o bom senso, o belo soneto de Olavo Bilac:

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo/Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,/Que, para ouvi-las, muita vez desperto/E abro as janelas, pálido de espanto…  //  E  conversamos toda a noite, enquanto/A via-láctea, como um pálio aberto,/Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,/Inda as procuro pelo céu deserto.  // Direis agora: “Tresloucado amigo!/Que conversas com elas? Que sentido/Tem o que dizem, quando estão contigo?”  //  E eu vos direi: “Amai para entendê-las!/Pois só quem ama pode ter ouvido/Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

Acontece que a aludida interlocutora, além de psicóloga, é também uma competentíssima astróloga, para quem a Via Láctea, a exemplo do que é dito pelo poeta, é nada mais que um imenso pálio aberto onde ela lê, sem dificuldades, histórias e destinos de quantos a procuram em busca de uma possível orientação que lhes indique o rumo a seguir nas ocasiões em que a vida os faz enveredar por descaminhos e desvios imprevistos. Este que vos escreve essas linhas, por exemplo, bem recentemente teve que recorrer a ela, pois, não bastassem as aflições imputadas pela malfadada pandemia causado pelo novo coronavírus, teve que se haver com um complicado trânsito de Plutão que lhe pôs a vida de cabeça para baixo.

Pois bem, por considerar pertinente a pergunta do consulente, a interlocutora supramencionada, afirma: “O olhar científico é importante. Com ele aprendemos e devemos muito da nossa vida aos estudos e pesquisa científica”. Mas, logo a seguir, com muita sabedoria e ponderação, adverte: “Contudo, o olhar científico para a realidade é um olhar, apenas um olhar, existem outros olhares. A realidade não cabe em um só saber, embora extremamente significativo. Existem outros olhares para a realidade. O olhar para o simbólico, para o representativo, para a sincronicidade é aonde a astrologia é contemplada” (p. 10).

O E-book “Contos do céu – Céu: vulnerabilidade essencial e esperança”, da autoria de Jane de Melo, de onde transcrevi os trechos acima citados, pode ser considerado uma breve iniciação à astrologia, com um toque literário bem curioso, devido à presença de um personagem que, de acordo com o que informa a autora, apesar do seu racionalismo típico de “um homem com o signo solar em Virgem, ascendente em Áries”, não resiste à tentação – ou seria melhor dizer premente necessidade? – de fazer uma consulta astrológica. É sempre um desafio fascinante pensar essa relação entre o racionalismo e as formas alternativas de saberes que não se enquadram, exatamente, no rol dos saberes ratificados pelas academias ditas científicas. E, nesse último caso, como sugere Jane de Melo em seu Contos do céu, a astrologia se enquadra com perfeição.

Gostaria de destacar, ainda, um aspecto da publicação. Refiro-me ao título, em cuja escolha a autora foi muito feliz: “Contos do céu – Céu: vulnerabilidade essencial e esperança”. Ela foi muito sábia ao unir, numa mesma expressão, os vocábulos vulnerabilidade e esperança. Mas o toque especial do título ficou por conta da palavra “essencial”. Acrescentar a palavra essencial para se referir à vulnerabilidade foi um artifício certeiro e genial da autora. Esse título tem o condão de nos lembrar que, como seres humanos, somos naturalmente vulneráveis, e, mais que isso, essa vulnerabilidade, por motivos que não discutirei aqui, é, de alguma forma,  essencial à vida. Entretanto, em que pese essa condição inescapável de todo ser humano, é igualmente necessário nunca esquecer que sempre poderemos contar com a esperança. E tanto uma coisa quanto a outra, vulnerabilidade e esperança, estão inscritos nos astros, basta saber ler e interpretar o que eles nos querem dizer.

Para concluir essa resenha, restaria, ainda, informar o desfecho designado ao personagem apresentado no início do texto, que chega ao consultório em busca de uma interpretação do seu Mapa Astral. Mas não vou roubar ao leitor esse prazer. Deixarei que ele mesmo o descubra lendo “Contos do céu – Céu: vulnerabilidade essencial e esperança”.

 

Links para contato com a autora, Jane de Melo, nas redes sociais:

E-mail: janeaquariana@gmail.com

https://www.facebook.com/janede.melo.984

https://www.instagram.com/cantosdoceu/

https://open.spotfy.com/artist/2PrTxIWw6L0vdnMeQQrZc5?nd=1

https://music.youtube.com/watch?v=6FyVaG50av4&list=RDAMVM6FyVaG50av4

 

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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