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Jesus Cristo

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Vasco Arruda

Transcrevo, abaixo, o texto escrito pelo Prof. Carlo Tursi a propósito do 1º Colóquio Teológico.

Repercussão promissora do 1º Colóquio Teológico
“Quem dizeis que eu sou?”
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O auditório José Albano, do Centro de Humanidades da UFC, com 112 lugares, estava lotado no dia 28 de maio – em pleno sábado de manhã: É que o Movimento por uma Formação Cristã Libertadora havia convidado para um debate aberto e gratuito acerca de “Aspectos cristológicos do imaginário de Jesus”, questionando até que ponto o “Cristo da Fé” do povo crente reflete as características históricas da figura e do projeto de Jesus de Nazaré. Polêmica garantida!
Moderadora Valdicélia Cavalcante acolheu o público em nome do MFCL e chamou os dois palestrantes a compor a mesa (um outro convidado, Pe. Marco Passerini, fora impossibilitado de participar por motivo de doença): Prof. Michael Kosubek (“O que a pesquisa histórico-crítica hodierna nos permite saber acerca do Jesus histórico?”) e Prof. Vasco Arruda (“Até que ponto desejos e projeções infantis participam da construção do imaginário acerca do Cristo milagreiro e salvador?”). Suas colocações, ricas em conteúdo e complementares em sua respectiva ótica, provocaram um envolvimento extraordinário da platéia (22 intervenções, entre perguntas e comentários). Eis algumas das inquietações:
Por que a história do cristianismo é marcada muito mais por prece e louvor do que por seguimento a Jesus? – Como a exegese moderna, com seu interesse histórico-crítico, pode evitar que a figura de Jesus se transforme em apenas um personagem proeminente do passado, perdendo assim a relevância como o “Vivente e Presente” em fé e vida das pessoas hoje? – Será que a fórmula da devoção popular “Entrego minha vida a Jesus!” contém algo mais do que uma recusa infantil da responsabilidade pelo próprio destino? – Poderia existir uma religiosidade/espiritualidade que não fosse marcada pela sensação infantil de desamparo e necessidade de proteção por um Pai Todo-poderoso que “quebra todos os meus galhos”? – Será que o papa Bento XVI, em seu livro sobre Jesus de Nazaré, estava bem-intencionado quando, já logo no início, não se ateve aos pressupostos metodológicos da exegese científica e exigiu o reconhecimento a priori da divindade do Jesus histórico? – Qual a imagem de Jesus Cristo que devemos apresentar ao povo cristão em catequese, ensino religioso e homilia? – Qual a importância de um determinado referencial cristológico para o (não-) engajamento social e político de cristãos e cristãs?
Embora as perguntas recebessem tratamento competente e aprofundamento significativo pelos palestrantes, o tempo se revelou curto para esgotar a riqueza de perspectivas e problemas que foi trazida à tona. O Movimento, desde já, estuda a possibilidade de oferecer um segundo colóquio para clarificações (e problematizações!) ulteriores. – Antonieta Bezerra, em nome do MFCL, agradeceu a tod@s e encerrou os trabalhos daquela memorável manhã. Que venha mais! Outro Cristianismo é possível!
Carlo Tursi

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Vasco Arruda

Amor fati I: Getsêmani
Ele saiu e, como de costume, dirigiu-se ao monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, disse-lhes: “Orai para não entrardes em tentação”.
E afastou-se deles mais ou menos a um tiro de pedra, e, dobrando os joelhos, orava: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!” Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra.
Erguendo-se após a oração, veio para junto dos discípulos e encontrou-os adormecidos de tristeza. E disse-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação!”
Lc 22,39-46
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 1829]

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Vasco Arruda

Quem é Jesus para a comunidade joanina? É o “filho de José, de Nazaré” (Jo 1,45), aparentemente insignificante (1,46), vivendo a vida do profeta rejeitado. A comunidade lembra os “sinais” desse profeta, suas credenciais, que não foram reconhecidas (12,37). Se houve alguma “suspeita” de que ele fosse o Messias, isso não era entendido no sentido certo; não era entendido no sentido de um revelador do rosto de Deus, mas de um Messias nacional, um “salvador da pátria” (6,14). O próprio termo “Messias” ou “Cristo” não é muito importante para João. Mais importante é o título de “Filho do Homem”, que sugere a origem celeste e o papel de vencer as potências do mundo (Dn 7,13-14).
O mais importante, porém, é ver em Jesus o Filho, sem mais: o Filho de Deus que por amor se põe a serviço da vontade salvífica do Pai (Jo 3,16). Porque ele sabe que o Pai o ama, ele também ama os seus até o fim (Jo 13,1; 15,9-12), deixando-lhes seu exemplo e a missão de amor do mesmo jeito.
A situação de opressão, em vez de ser uma razão de desespero, torna-se assim um desafio ao amor fraterno e à resistência contra as forças sedutoras e dispersivas que têm o nome de Satanás, Diabo, Apolião… A contemplação da glória conferida ao Filho – Cordeiro imolado, entregando a vida pelos seus – e a presença de seu Espírito sustentam na comunidade a vida verdadeira e definitiva que possuem aqueles que trilham seu caminho.
Johan Konings
[Konings, Johan. Cristologia na Comunidade Joanina. In: Aquino, Marcelo Fernandes de (organização de). Jesus de Nazaré, profeta da liberdade e da esperança. – São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 1999, p. 71.]

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Vasco Arruda

Contemplar em atitude de oração o Jesus da história em quem o cristão acredita que Deus estava vivendo humanamente é olhar com toda profundidade para as mais plenas possibilidades do ser humano. A ênfase da humanidade de Jesus, que é uma recuperação feita pela cristologia contemporânea, é a correção a uma superênfase dada à divindade de Cristo, e de uma maneira de se ver Cristo somente pela perspectiva de sua divindade. A teologia especulara sobre o que era apropriado a Deus e então pressupõe esses mesmos atributos em Jesus, eliminando efetivamente quase todos os vestígios de seu ser humano, em todo sentido verdadeiro da palavra. Esse Jesus não podia ficar doente, não podia crescer em santidade, tinha a previsão exata de cada evento e gozava da visão beatífica mesmo em sua condição terrena.
Estudos críticos das Escrituras distinguem uma perspectiva pós-ressurrecional por parte dos autores dos evangelhos. Precisamos distinguir, meditando sobre Jesus, esses elementos verdadeiros embora interpretativos, nos quais os primeiros cristãos tentaram conceituar e verbalizar suas extraordinárias experiências com essa pessoa. Se pudéssemos estar ao lado deles em seus encontros com Jesus, poderíamos facilmente apreciar a beleza das mitologias inspiradas que surgiram a partir do processo primário de pensamento tanto de Jesus quanto de seus primeiros discípulos, e que foram preservadas para nós nas preciosidades que compreendem o Novo Testamento. Ao mesmo tempo, se conseguirmos distinguir essas mitologias, elas não precisarão obscurecer a verdadeira humanidade de Jesus, nem o paradoxo que ele encarna.
Anne Brennan e Janice Brewi
[Brennan, Anne e Brew, Janice. Meia-idade e vida: oração e lazer, fontes de um novo dinamismo. 2ª. ed. Tradução Isa F. Leal Ferreira; revisão Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 1991, p. 125. – (Col. Amor e psique).]