2014-01-06 14.18.54-1-1

 

Deitou na cama com a esperança de que ela viesse novamente ao seu encontro. Cochilou, acordou. Cochilou, acordou. Cochilou, acordou. Viu que já tinha chegado a hora. A tal temida insônia, tormento de uns e alegria de outros, chegara. A insônia era uma companhia para esse moço noturno, uma saída. Sim, uma saída, pois quando colocava a cabeça no travesseiro e ousava  dormir, lá se vinham os pesadelos e as catástrofes, e as bombas, e as brigas, e as aventuras, tudo coisa da imaginação.
Ele acordava do seu pequeno cochilo toda meia-noite, levantava e logo pegava o seu isqueiro bic verde  e seu maço de cigarro Hollywood. Acendia um cigarro atrás do outro. Tinha o trago longo. Sugava o filtro do cigarro e soltava baforadas enormes de fumaça, que deixavam o quarto com um forte cheiro de nicotina, matando as baratas que existiam no quarto. Ele preferia cigarros mentolados, mas na falta de, juntava seu Hollywood com tic tac e ficava um sabor menta. Artificial, mas ficava.
A madrugada era pequena para o seu despertar. Não conseguia mais dormir, então ficava fumando e observando a rua escura e deserta pela janela. Era um ritual. Levantava. Fumava. Abria a janela.Observava.
Um certo dia, ele quis ousar. Depois de feito o ritual, decidiu que assim que o azul celeste do céu aparecesse, iria dar uma volta na praça perto de sua casa. Dito e feito. O azul apareceu e ele foi. Foi de óculos escuros, de calça jeans preta e moletom cinza, ah é de chinelos. Queria sentir o ambiente frio do início da manhã nos pés.
Se encantou com o dia. Nunca tinha feito isso, de sair de casa nesse horário, até porque ele só tinha a manhã para dormir,  já que durante a noite não conseguia. Tinha que ir para o seu trabalho a tarde, com  ou sem sono, tinha que ir , de qualquer maneira. Ele trocava o dia pela noite, entende? Era viciado em madrugadas.
Nunca fora ao médico para saber os reais motivos de seu “sistema” nunca ter se acostumado em dormir no período da noite. Para ele, não tinha problemas em relação a isso, só não gostava dos efeitos colaterais. Passava  a tarde sonolento, grogue, com a voz morta, mas gostava.
Gostava da insônia na madrugada. Gostava de estar acordado enquanto todas as outras pessoas dormiam. Gostava de ver o que os outros não via. De saber o que ninguém sabia.
O que ele via mesmo?
Via os segredos da madrugada.
Texto e Imagem: Eduardo Sousa