Meu artigo semanal publicado na edição de hoje (20/1/2011) do O POVO.
A quem cabe administrar Fortaleza?
Plínio Bortolotti
Semana passada escrevi sobre as ameaças de morte contra Luiza Perdigão, titular da Secretaria Executiva Regional do Centro, depois de sua ação contra uma fábrica de CDs piratas.
Na segunda-feira houve ato em solidariedade à secretária, em frente ao Theatro José de Alencar, um dos símbolos do Centro de Fortaleza. Luiza Perdigão precisa de toda solidariedade – e proteção – possíveis, pois não se transige com ameaças de criminosos.
Porém, é preciso dizer o seguinte. Durante os discursos de representantes da Prefeitura, verifiquei algo recorrente nas explicações para justificar a administração precária sob a qual está a cidade.
Autoridades municipais adquiram o hábito de alhear-se da responsabilidade sobre a sua própria administração. Ou generalizam: “É preciso que toda a sociedade ajude ou não haverá jeito”, é o mantra – ou atribuem a culpa diretamente aos munícipes.
É certo, em muitos casos, os habitantes contribuem com a desorganização: jogam lixo em qualquer lugar; motoristas andam na contramão, estacionam sobre calçadas; comerciantes ocupam o espaço público; tabuletas de propaganda e faixas estão em árvores e postes, a maioria de placas de outdoor são irregulares, etc.
Mas agir contra esse estado de coisas é obrigação inalienável de quem foi eleito para chefiar o Executivo. O dever moral e legal de iniciar a ação é do poder público. Se conseguir adesão da sociedade, ótimo.
Vamos aceitar que a organização do Centro empacou pela ação desse grupo criminoso. E os outros bairros da cidade, em situação igual ou pior, por que foi?
A prefeita Luizianne Lins (PT) tem o hábito de dizer que se cobra muito dela por “obras”. Não penso que apenas obras são reveladoras da qualidade de um chefe de Executivo. Mas entendo que competência administrativa – conseguir que as escolas tenham, pelo menos, professores, por exemplo – é o mínimo a se exigir de alguém que se propõe a administrar um bem público.
Essa questão é de compromisso. De vontade. De determinação para fazer obras cotidianas e permanentes como coleta de lixo ou reparo de ruas. Mais enfadonhas que discursos inflamados prometendo o paraíso. Mas necessárias. Algumas tarefas podem até causar empolgação no início, como operação tapa buracos ou a limpeza das ruas com o pessoal do MST. Mas logo causam desencanto, pois são rotineiras e exigem grande dedicação. E as desculpas são absurdas. Já ouvimos em reportagem dizer que é apenas uma “pequena depressão” no pavimento e que não há recursos. Mas os médicos do IJF, por exemplo, corrigem pequenas falhas que observam após tirar o gesso ou os pontos de alguns pacientes. E também contam com poucos recursos. Jamais um médico diz que o paciente “manca só um pouquinho”. Infelizmente vários gestores jamais andaram nas ruas de sua Secretaria Regional.